Ex-presidente da Argentina presta, pela primeira vez, depoimento em caso de corrupção
BUENOS AIRES — A ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, assegurou nesta segunda-feira ser vítima de uma “formidável manobra de perseguição política”, similar, segundo ela, “a que também estamos vendo no Brasil contra o ex-presidente Lula”. A ex-chefe de Estado prestou, pela primeira vez, depoimento num processo de suposta corrupção, no qual está acusada de ter chefiado uma associação ilícita para beneficiar empresários amigos em concessões de obras públicas.
— Este processo é um disparate — declarou Cristina, ao sair dos tribunais de Comodoro Py, em Buenos Aires, onde foi recebida pelo juiz Julián Ercolini, encarregado caso.
Cristina não aceitou responder perguntas do juiz e entregou um documento, no qual solicitou a anulação do processo.
— O que estamos vendo aqui não é original, também estamos vendo no Brasil contra o ex-presidente Lula... perseguem governos que incluíram socialmente milhões de pessoas, é uma manobra regional — afirmou a ex-presidente.
O processo inclui vários ex-funcionários de seu governo, entre eles o deputado e ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido, que também foram intimados a depor pelo juiz Ercolini.
Também está acusado o empresário Lázaro Baez, sócio da ex-família presidencial, preso desde abril passado. Na denúncia, os promotores do caso asseguram que os governos Kirchner favoreceram amplamente as empresas construtoras de Baez, principalmente em licitações na província de Santa Cruz, na Patagônia.
Quando o ex-presidente Néstor Kirchner chegou ao poder, em 2003, Baez era apenas um funcionário do Banco de Santa Cruz. Durante o kirchnerismo, o sócio da família Kirchner tornou-se um empresário multimilionário, principalmente pela participação de suas empresas em obras públicas.
— As obras públicas são aprovadas pelo Parlamento. Como podem falar em associação ilícita? — perguntou Cristina, aos jornalistas.
A ex-presidente enfrenta várias denúncias judiciais e já foi processada por irregularidades em operações de dólar futuro no Banco Central.
A ex-presidente foi acompanhada nesta segunda por cerca de 5 mil militantes da peronista Frente para a Vitória, deputados e alguns ex-membros de seu gabinete. Cristina não quis confirmar se será candidata nas legislativas de 2018, mas assegurou que o governo do presidente Mauricio Macri “está atacando todos os dirigentes que poderiam ser candidatos e ter votos”.
— Se nós fomos uma associação ilícita, este governo é uma associação ilícita do terror, porque as pessoas estão aterrorizadas pela crise econômica — alfinetou a ex-chefe de Estado.