quinta-feira, 30 de junho de 2016

Mário Sabino: "Os coitados roubados por Paulo Bernardo tiveram pena antecipada"


Com O Antagonista


O Jornal Nacional mostrou que aumentou dramaticamente o número de aposentados inadimplentes. O motivo é que eles se acharam obrigados a arcar com as necessidades e os desejos dos seus filhos desempregados e netos sem perspectiva. Necessidades e desejos que resultaram em calotes, dada a exiguidade do que recebem por mês.
A crise na Europa já havia mostrado face semelhante -- a de velhos que são obrigados a sustentar jovens adultos, numa inversão do que se presumia ser a direção natural das famílias. No Brasil, o problema adquire contornos ainda mais urgentes, porque as redes de proteção sociais são escassas, quando não completamente inexistentes.
Ao deparar com a notícia de que a prisão preventiva de Paulo Bernardo foi revogada por Dias Toffoli, voltei a pensar na reportagem do Jornal Nacional. A totalidade dos aposentados em dificuldades caiu no conto do crédito consignado. Ou seja, têm até um terço da sua renda descontado em folha pelo banco que lhes emprestou dinheiro. Com o que sobra, contraíram mais dívidas com financeiras -- e, agora, estão sem crédito nenhum.
Segundo a Justiça de São Paulo, Paulo Bernardo chefiava uma organização criminosa que roubou 100 milhões de reais de funcionários públicos e aposentados que viram no consignado a miragem de melhorar o padrão de vida de si próprios e dos que os rodeiam. Era um roubo de formiguinha: pouco mais de um real por mês de cada devedor, pago a título de taxa de administração para uma empresa que repassava a "mais-valia" de cada real a Paulo Bernardo, PT e o resto daquela gente que só queria acabar com a fome no mundo.
Apesar de tamanha perversidade, Paulo Bernardo está solto. Na visão de Dias Toffoli, ele não pode sofrer “antecipação de pena”. Mas os coitados que foram enganados pelos arquitetos do consignado, os coitados que foram roubados pelo ex-ministro et caterva, como os aposentados inadimplentes do Jornal Nacional, estes tiveram as suas penas antecipadas pelo serviço de proteção ao crédito. Para eles, o STF não existe.