Solto na noite desta quarta-feira, o ex-ministro Paulo Bernardo declarou ser inocente, criticou sua prisão e afirmou que o ministério do Planejamento, pasta que comandou, não possui contrato com a empresa Consist. Ele foi preso na última quinta-feira, durante a Operação Custo Brasil, um desdobramento da 18ª fase da Lava-Jato. O ex-ministro é acusado pelo Ministério Público Federal de São Paulo de ter recebido mais de R$ 7 milhões de um esquema que desviou cerca de R$ 100 milhões do ministério.
— Sou inocente. Isso vai ficar demonstrado. Acho que essa prisão não era necessária porque eu estava em local determinado, me coloquei à disposição da Justiça e durante três meses não fui chamado. Então, não vi nenhum motivo para isso. Felizmente, o minsitro do Supremo teve o mesmo entendimento.
A prisão foi revogada nesta quarta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. Depois da decisão de Toffoli, o juiz Paulo Bueno de Azevedo, que autorizou a detenção de Bernardo, revogou a prisão de outros sete investigados. Ao deixar a Superintendência Regional da Policia Federal em São Paulo, Paulo Bernardo afirmou que o contrato com a Consist não foi firmado com o Planejamento.
— O Ministério do Planejamento não tem nenhum um contrato com a Consist. Ela foi contradada pela associação de bancos e o sindicato de entidades de prevdêcia complementar. Esse contrato é estranho. Em nenhum momento houve contrato do Planejamento com a Consist. É evidente que quem quiser esclarecer isso deve falar com os bancos e as entidades. Eu não tenho nenhuma relação com a Consist.
De acordo com as investigações, pelo menos R$ 7,6 milhões foram repassados a um escritório de advocacia ligado a Paulo Bernardo. Os repasses eram feitos através do pagamento de serviços como aluguel de flats, funcionários e serviços jurídicos do ex-ministro. Nesta quarta, ele negou ter despesas pagas pela empresa:
— Isso não procede. Minhas despesas pessoais são pagas com o meu salário.
Ele reclamou que delações foram encaradas como “absolutas verdades”:
— Vai haver uma discussão sobre essas delações, pois me parece que houve muita manipulação.
O ex-ministro não quis comentar a operação da Polícia Federal no apartamento em Brasília, onde mora com sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).
A operação Custo Brasil apura o pagamento de propina, proveniente de contratos de prestação de serviços de informática com a empresa Consist, na ordem de R$ 100 milhões, entre os anos de 2010 e 2015, a pessoas ligadas a funcionários públicos e agentes públicos do Ministério do Planejamento. O caso foi revelado pelo GLOBO em agosto do ano passado.
Embora tenha revogado a prisão, Toffoli negou um pedido de Bernardo para que o caso dele fosse retirado da Justiça Federal de São Paulo e encaminhado para o STF, mas, por conta própria, determinou a revogação da prisão. Por outro lado, Toffoli deu ao juiz federal Paulo Bueno de Azevedo, que havia mandado prender o ex-ministro, a prerrogativa de definir medidas cautelares alternativas, como o monitoramento eletrônico e a obrigação de ficar recolhido em casa à noite e nos fins de semana.
A todo instante comparando sua prisão à obra de Kafka "O processo", onde primeiro o personagem vai preso e depois conhece as acusações, o advogado Guilherme Gonçalves deixou a sede da Polícia Federal negando qualquer envolvimento em desvio de dinheiro da Consist para o ex-ministro Paulo Bernardo. Ele afirmou que sua prisão foi uma precipitação.
— Sempre me coloquei à disposição da Justiça. Isso surgiu de delação premiada. Foi uma precipitação.
Gonçalves disse ainda que conheceu a maioria dos envolvidos no esquema na sede da Polícia Federal e que nunca se encontrou com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de repassar propina ao Partido dos Trabalhadores.
— A única que já conhecia é o ex-ministro Paulo Bernardo. Parece uma situação Kafkaniana, onde primeiro você é preso e depois é feita a acusação.
Guilherme explicou ainda que recebeu o valor de R$ 6 milhões por seis anos da Consist e que está tudo declarado no Imposto de Renda. Questionado se não havia conflito de interesses por advogar para a Consist e para o ex-ministro Paulo Bernardo, Gonçalves afirma que, na época, "não via problema".
— Não representa conflito de interesse porque não tenho cargo público. Não vejo o menos problema.
Após falar com a imprensa, Gonçalves dividiu um táxi com o advogado Daisson Portanova também preso na operação.
— Ele não tem dinheiro para voltar — justificou Gonçalves.