quarta-feira, 29 de junho de 2016

Senadora de esquerda é cotada para ser vice de Hillary Clinton

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER - Folha de São Paulo


A senadora Elizabeth Warren mantém em seu escritório de Boston (Massachusetts) uma tigela de vidro cheia de pedregulhos. Foi presente de assessores da campanha ao Senado em 2012, na qual ela gostava de dizer: "Quero jogar pedras".

O estilo brigão de Warren, que concorre com Bernie Sanders como um dos nomes mais à esquerda entre os democratas, é famoso em Washington e não poupou nem Hillary Clinton no passado.

John Sommers II - 27.jun.2016/Getty Images/AFP
A virtual candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton discursa ao lado de Elizabeth Warren
A virtual candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton discursa ao lado de Elizabeth Warren


Hoje cotada como vice da virtual candidata à Casa Branca, ela encontrou em Donald Trump um vasto telhado de vidro. Vêm da senadora as mais contundentes críticas ao republicano, e ela as arremessa usando a mesma arma do rival: mensagens curtas e grossas no Twitter.

Com frequência, os dois se lançam ali no pugilato eleitoral. Em 6 de maio, Trump, que gosta de apelidos, elegeu um para ela: "Elizabeth Pateta". "Que apelido mais babaca. Fraco!", rebateu a senadora 80 minutos depois.

Com outra alcunha, Pocahontas, ele lembra que Warren se declarou parte da minoria Cherokee na Universidade Harvard, onde lecionava direito: "Ela tem tanto sangue indígena quanto eu".

A senadora nega ter se beneficiado de cotas (a universidade a chancela) e, em livro de memórias de 2014, diz que "todos no lado de mamãe falavam abertamente da ascendência indígena".

Se a dinâmica remete à birra fraterna, admita-se: Warren começou. "Vamos ser honestos: @realDonaldTrump é um perdedor", escreveu em 21 de março. Desde então, sete em dez comentários seus na rede o têm como alvo.

Na segunda (27), Hillary e Warren fizeram o primeiro comício em dupla, no que foi considerado "test-drive" para o fôlego da chapa 100% feminina. O nome do vice, afinal, não foi ainda definido.

Em Ohio, um dos Estados-chave da eleição, a presidenciável rasgou seda após sua potencial vice dizer que pateta mesmo é o boné vermelho de Trump, o do slogan "Faça a América Incrível De Novo". "Tenho que dizer, apenas amo como ela irrita Trump."

Não é só no corte de cabelo e nos ternos azuis que as novas melhores amigas mostram sintonia. Hillary, 68, e Warren, 67, são líderes pragmáticas, formadas em direito por escolas de elite (Yale e Rutgers, respectivamente).

Mas se hoje se abraça, sorridente, para as câmeras, a dupla já passou por maus momentos.

Warren se ressentia de Hillary porque a candidata, quando primeira-dama, a apoiou contra uma lei de falência que a então professora de direito considerava pró-Wall Street e depois, como senadora de Nova York, votou a favor da legislação. O gesto foi tomado como traição.

"O projeto de lei era essencialmente o mesmo. Hillary, não", Warren escreveu em livro de 2003. "Ela não poderia bancar uma posição por princípios. Campanhas custam dinheiro, e esse dinheiro não viria de famílias com problemas financeiros."

Não estava mais em Ohio quem falou: na segunda, a senadora disse que, além de "casca grossa", a ex-secretária de Estado tem "sobretudo um bom coração".