Eduardo Barreto e Simone Iglesias - O Globo
O presidente interino Michel Temer anunciou um reajuste de 12,5% para o Bolsa Família nesta quarta-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto, conforme antecipado pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim. Pouco antes de ser afastada, a presidente Dilma Rousseff havia anunciado um aumento de 9%, que não foi formalizado. O reajuste rebate uma das principais críticas da petista, que dizia mesmo antes de deixar o Planalto que Temer cortaria "até 36 milhões" do programa. Temer também ressaltou que o Bolsa Família "não é para durar até o resto da vida", mas que é necessário, enquanto houver extrema pobreza.
- O Bolsa Família não é para durar até o resto da vida - disse Temer, ao completar:
- Enquanto houver extrema pobreza é preciso ter programas dessa natureza.
O reajuste médio de 12,5% está sendo anunciado hoje para já ser pago no mês de julho. Serão reajustados os benefícios de 13.805.497 de pessoas. Em junho, o governo gastou R$ 2,2 bilhões com o programa.
Com o decreto, haverá aumento do benefício da linha de extrema pobreza - que passa de R$ 77 para R$ 85 - e pobreza - R$ 154 para R$ 170. A folha de pagamento passará de R$ 2,23 bilhões para R$ 2,5 bilhões.
O presidente interino disse também que o primeiro direito social do cidadão é o emprego, contrapondo-se aos discursos de Dilma, que não era tão enfático ao falar de duração do Bolsa Família. O ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, Osmar Terra, também ressaltou que o programa deve pensar em "emancipação", e acusou o governo afastado de ter "esvaziado" a área social por causa de "desacertos na economia".
- É um problema também de emancipação. Não pode ser um sonho das pessoas viver no Bolsa Família e não é. É uma maneira de atendê-las na emergência de suas vidas, para que não passem fome - afirma Osmar Terra.
O Bolsa Família não era reajustado há dois anos. Em maio, ainda como presidente, Dilma havia anunciado um aumento de 9%, o que não foi concretizado.
- Foi prometido no primeiro de maio e não foi dado - disse o ministro, e completou: - É uma preocupação concreta. Não só discurso que não acontece, mas sim discurso com resultado concreto - atacou, também falando em "desacertos econômicos" da petista
IMPACTO
O impacto mensal do reajuste do Bolsa Família será de R$ 270 milhões a partir de julho. O índice de 12,5% tem como base o valor médio do benefício pago por família. O MDS chegou a este percentual dividindo R$ 2,5 bilhões pelas 13,8 milhões de famílias que recebem os recursos.
No entanto, o aumento por categoria foi mais baixo do que os 12%. Aos que estão na faixa da extrema pobreza, pobreza, e benefício básico, o reajuste será de 10,39%; os jovens terão aumento de 9,52%; e as crianças de zero a 15 anos, gestantes e nutrizes de 11,43%.
Na agenda oficial do presidente interino, o evento no fim desta manhã seria para liberar recursos na educação básica e superior. Uma hora antes de a cerimônia começar, foi incluído o anúncio do reajuste do Bolsa Família.
Dilma havia anunciado um reajuste de 9% no programa em manifestação no Dia do Trabalho em São Paulo, organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Entretanto, o aumento não aconteceu.
Convocada por Dilma para atacar a área social do governo Temer, Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social de Dilma, dizia em discursos a beneficiários que a filosofia da gestão interina seria "os 36 milhões que se virem", em referência a pessoas que seriam excluídas do Bolsa Família.