Este blog relembra pela enésima vez duas frases ditas por Lula durante as obras da usina de Belo Monte:
1) “Estarei fiscalizando a construção dessa hidrelétrica.”
2) “Deus queira que elas (as empresas) queiram participar de todas (as obras). Porque, para nós, o ideal é essa parceria público-privada.”
Com um fiscal como Lula, não surpreende que a parceria público-privada ideal tenha rendido um Belo Monte de propina a seu conselheiro e velho garoto de recados Delfim Netto.
Como ser homem de alguém acima dos partidos como Lula aparentemente tem suas vantagens, a propina paga a Delfim foi descontada em partes iguais de PT e PMDB, segundo a delação de Otávio Marques Azevedo, da Andrade Gutierrez:
“Antonio Palocci, provavelmente em São Paulo, solicitou ao declarante o pagamento de R$ 15 milhões para Delfim Netto, dedutível do 1% de propina a ser paga. A empresa atendeu essa determinação de Palocci, porém descontou o valor pago a Delfim do montante total solicitado aos partidos PMDB e PT, em partes iguais”.
Tem mais: “Os valores a título de propina, no caso do PT, foram realizados, em parcelas, como doação eleitoral” e “no caso do PT, as propinas foram pagas, no montante de (R$) 10 milhões, da seguinte forma: em 2010, o valor de 2,5 milhões de reais; em 2012, o valor de 1,6 milhão de reais; em 2014, no valor de 4,5 milhões de reais e, para Delfim Netto, o valor de 1,4 milhões de reais”, registra o Termo de Colaboração 02, de Azevedo, sobre Belo Monte.
A cumplicidade de Lula e Delfim é antiga, como mostrei aqui em agosto de 2015.
Na escuta da Lava Jato que flagrou Lula preocupado com “assuntos do BNDES”, o petista e seu companheiro de viagens que chegaria a ser preso Alexandrino Alencar, da Odebrecht, referiam-se também a um artigo assinado por Delfim que seria publicado no dia seguinte sobre o tema.
“Eu falei com DELFIM NETTO hoje, ele vai publicar um artigo amanhã no VALOR dando o cacete”, dizia Lula.
O fato de saber o tema na véspera da publicação indicava a articulação do Brahma com o mesmo ex-ministro da Fazenda que afirmou em 2008 que “Lula é o único economista que presta no Brasil” e ressaltou em 2012 o “grande avanço social e econômico por ele produzido”, como se não tivesse havido antes o Plano Real ao qual Delfim e Lula se opuseram.
O artigo citado no telefonema, o enésimo da série de puxa-saquismo (ainda que velado), saiu no dia 16 de junho de 2015 no jornal Valor Econômico com o título “Exportação de serviços e o ‘complexo de vira-lata'” e foi reproduzido pelos blogs sujos do lulopetismo e de José Dirceu.
Em reação à reportagem da edição impressa do Globo “BNDES causa perdas de R$ 1,1 bi por ano ao FAT”, Delfim tratava de defender o financiamento do banco estatal para a exportação de serviços de construtoras em obras de infraestrutura em países como Cuba, Venezuela e Angola.
Sim: tudo que interessava aos dois maiores lobistas da Odebrecht, Alexandrino e Lula.
“É abusivo dizer que o BNDES é uma ‘caixa preta’ e é erro grave afirmar que deve dar publicidade às minúcias das suas operações, o que, obviamente, revelaria detalhes dos contratos de seus clientes que seriam preciosas informações para nossos concorrentes e, portanto, contra o Brasil“, alegava Delfim, igualzinho à propaganda do PT.
Como comentei em dezembro de 2015, depois que Eduardo Cunha acolheu o pedido de impeachment contra Dilma Rousseff: