O juiz Sérgio Moro retomou, nesta terça-feira, o processo contra executivos da empreiteira Andrade Gutierrez. A ação estava parada desde fevereiro por conta dos acordos de colaboração assinados entre réus e a Procuradoria-Geral da República (PGR), homologados no Supremo Tribunal Federal (STF). Moro determinou que os seis réus ligados à empresa, entre eles o ex-presidente Otávio Marques de Azevedo, prestem novos depoimentos à Justiça.
Os executivos serão chamados para falar sobre a participação da empresa no esquema de corrupção da Petrobras. Os depoimentos da Andrade Gutierrez comprometem ex-ministros e assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente afastada, Dilma Rousseff, que perderam foro privilegiado, como Edinho Silva e Ricardo Berzoini.
Durante os depoimentos a PGR, Otávio de Azevedo afirmou que, em 2008, o então presidente do PT Ricardo Berzoini exigiu o pagamento de propina referente a 1% de todas as obras da empresa desde o início dos governos petista, em 2003. A propina seria a título de “bom relacionamento”. Foram pagos mais de R$ 60 milhões em cinco anos.
Azevedo explicou ainda como pagou dívidas das duas campanhas presidenciais de Dilma. Ele afirmou que o ex-ministro Antônio Palocci e o ex-chefe de gabinete de Dilma Giles de Azevedo pediram que a empresa quitasse uma dívida de campanha da petista de 2010. Os valores foram pagos a empresa de comunicação Pepper.
Em relação à campanha presidencial de 2014, Otávio Azevedo afirmou que o ex-ministro da Comunicação Social de Dilma Edinho Silva, à época tesoureiro de sua campanha, cobrou uma contribuição de R$ 100 milhões. O executivo disse ainda que Giles também pressionou o pagamento. Vaccari também teria cobrado propina de 1% em relação aos valores financiados pelo BNDES para uma obra da Andrade na Venezuela, que teria o aval do então presidente Lula.
Serão ouvidos, no dia 25 de julho, Antônio Pedro Campelo de Souza, Elton Negrão de Azevedo Júnior e Flávio Gomes Machado Filho. Já no dia 28 de julho serão interrogados Otávio Marques de Azevedo e Paulo Roberto Dalmazzo.
DELAÇÕES LIGAM POLÍTICOS A PAGAMENTO DE PROPINAS
Em suas delações, executivos da Andrade Gutierrez reafirmaram a existência de reuniões entre empreiteiras para direcionar os resultados das licitações. Segundo os funcionários da construtora, os percentuais de propina para diretores da Petrobras já estavam incluídos no custo operacional da obra.
O acordo de colaboração atinge, principalmente, políticos da cúpula do PMDB, como os senadores Romero Jucá e Edison Lobão. Segundo Flávio Gomes Machado Filho, que trabalhou como diretor de relações institucionais da empreiteira, o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, pediu para que o executivo procurasse os senadores para "acertar uma demanda política relacionada ao contrato de Angra III". Após procurar Romero Jucá, o senador pediu 3% do valor da obra para o PMDB, mas avisou que a gestão seria feita por Lobão. Segundo Machado Filho, o senador teria dito que esse seria o "custo político" da obra.
No encontro com Lobão, o senador confirmou que centralizaria as demandas de Angra III.
Após o primeiro pagamento, no entanto, Jucá teria informado que o combinado não estaria funcionando "porque Lobão ficava com tudo para ele", indicando outras pessoas para que a Andrade realizasse os pagamentos a Jucá.
Os executivos citam, ainda, a obra de uma siderúrgica na Venezuela que teria contado com o apoio político do ex-presidente Lula junto ao então presidente venezuelano Hugo Chávez. Segundo Flávio Gomes Machado Filho, não foi pago nenhum valor ao presidente Lula por esse apoio nem realizado nenhum acordo. Posteriormente, no entanto, o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, teria o procurado dizendo que teria que liberar o 1%.
Outro político envolvido nas delações foi o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Segundo Rogério Nora de Sá, outro ex-executivo da Andrade Gutierrez, Cabral teria pedido, em uma reunião, propina mensal de R$ 350 mil a título de adiantamento para acelerar a quitação de débitos estaduais com a empreiteira. Sérgio Cabral também estaria implicado em pagamentos de valores nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), de urbanização da Rocinha e do complexo do Alemão, além do Arco Metropolitano.