O Globo
País começa a sujar matriz e destina só 1,4% do total global em fontes alternativas para energia renovável
Até pouco tempo à frente na defesa da produção de energia de fontes renováveis, como etanol, biodiesel, eólica e solar, o Brasil está a poucos passos de sujar sua matriz energética. É o que aponta um amplo estudo sobre sustentabilidade e economia verde, feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Febraban, em fase de conclusão. Os motivos da mudança de prioridade, segundo a análise, seriam a descoberta e o início da exploração de grandes reservas de petróleo no pré-sal, o excesso de acomodação com as usinas hidrelétricas, além de aspectos tecnológicos e econômicos.
O trabalho compara os investimentos globais nas chamadas Novas Energias (NEs) agendados para 2014. Eles somam US$ 214 bilhões e a participação brasileira nesse total é de US$ 3,1 bilhões, 1,4% do total. Na comparação com outros emergentes, como a China, o Brasil fica muito atrás. O país asiático investirá US$ 56,3 bilhões (26%). A Índia também aparece na frente, com US$ 6,1 bilhões (2,8%).
O trabalho compara os investimentos globais nas chamadas Novas Energias (NEs) agendados para 2014. Eles somam US$ 214 bilhões e a participação brasileira nesse total é de US$ 3,1 bilhões, 1,4% do total. Na comparação com outros emergentes, como a China, o Brasil fica muito atrás. O país asiático investirá US$ 56,3 bilhões (26%). A Índia também aparece na frente, com US$ 6,1 bilhões (2,8%).
Além disso, os autores destacam que, embora as fontes renováveis ainda sejam majoritárias na matriz energética do Brasil, respondendo por 79,3% da eletricidade consumida (dos quais 70,6% de origem hidráulica, especialmente grandes hidrelétricas), esse percentual foi bem maior em anos recentes. Em 2011, era de 88,9% e, em 2012, 84,3%.
“Num contexto mundial, em que uma prioridade estratégica visando ao desenvolvimento sustentável e ao longo prazo é priorizar o uso de energias renováveis, o Brasil caminha no sentido oposto, no que tange à composição de sua matriz", diz o estudo.
Segundo Aron Belinky, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, um dos autores da pesquisa, o grande volume de hidrelétricas construídas no passado ajuda nessa acomodação. Ele cita perda de oportunidade em relação a etanol e biocombustíveis:
— As hidrelétricas trazem uma tecnologia antiga, dos séculos XIX e XX. Não é tecnologia de ponta do século XXI. Por mais que esse tipo de energia não gere efeito estufa, tem impacto local muito grande junto a comunidades ribeirinhas, vegetação, animais etc. É uma tecnologia com uso limitado, que depende de grandes rios.
“O segmento de energias renováveis é um dos que mais têm crescido no mundo em termos de investimentos, enquanto no Brasil praticamente nada tem ocorrido”, diz o estudo.
O técnico ressaltou que o Brasil entrou no século XXI como um país privilegiado no cenário energético, mas, na última década, essa posição vem mudando. Nesse período, o Brasil contou com políticas públicas voltadas às Novas Energias, com destaque para o Proinfa, que impulsionou a implantação de 131 usinas (60 pequenas centrais hidrelétricas, 52 eólicas, 19 térmicas a biomassa), previstas para gerar 11,1GWh em 2014. A expectativa com base na observação do mercado atual das NEs — que não inclui a solar fotovoltaica — é que as eólicas mantenham um ritmo de contratação anual entre 2GW e 2,5GW.
Já o setor de biomassa tem maior dificuldade em viabilizar contratações por causa do maior custo médio de usinas de cogeração (R$ 150/MWh contra R$ 130/MWh das eólicas) e menor priorização do governo. Mas há um potencial de geração de eletricidade a partir do bagaço de cana proporcional à evolução da safra e da produção de etanol.
O secretário de Energia do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura, reconheceu que a participação do Brasil no total de investimentos mundiais é pequena. Mas enfatizou que existe um ambicioso plano decenal para o período 2013-2023.
— Vamos acrescentar 77 mil megawatts aos 127 mil existentes — disse, acrescentando que a projeção de aumento da produção de etanol, até 2023, é de 5,5% ao ano; de biodiesel, 6,4%.
Belinky destaca que não há dados comparativos sobre o Brasil porque é a primeira vez que esse tipo de pesquisa é feita. Mas ressalta que o Brasil está prestes a perder o mote da História.