segunda-feira, 1 de setembro de 2014

"À espera de Marina", por Ricardo Noblat

Blog do Noblat - O Globo


Há 10 dias, você leu: “Nosso grande adversário é o PT”, como disse Aécio Neves, candidato do PSDB a presidente da República, em viagem a Dourados, Mato Grosso do Sul; agora, leia: “Nosso grande adversário é Marina Silva”, candidata a presidente pelo PSB, e que substituiu Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo. De fato, Aécio ainda não disse que Marina é sua grande adversária. Nem precisava...
Eleição surpreendente como esta só houve uma desde o restabelecimento da democracia no país em 1985.
Há quatro anos, Lula elegeu Dilma com larga folga de votos. Como estava previsto. Há oito anos, ele se reelegeu – também como estava previsto.
Foi há 12 anos, sem surpresa alguma, que Lula subiu pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto.
Em 1989, não. Naquele ano, mais de 20 candidatos disputaram a primeira eleição direta para presidente depois de 21 anos de ditadura.
O nome que parecia o mais forte, Ulysses Guimarães, do PMDB, amealhou menos de 5% dos votos no primeiro turno.
Os livres atiradores Fernando Collor e Lula se bateram no segundo turno. Collor venceu – sem partido, sem preparo, sem compromissos.
Foi aberta a temporada de tiro ao alvo em Marina. E a acusação mais leve que lhe fazem nas redes sociais é de que poderá vir a ser o novo Collor. Ou o novo Jânio Quadros.
Militantes do PT e do PSDB se digladiam para ver quem consegue provocar mais danos à imagem da candidata. 
Jânio foi o presidente que renunciou ao mandato em agosto de 1961 depois de seis meses no cargo. Bebia muito. E era meio doido.
Renunciou para dar um golpe com o apoio dos militares e o respaldo da maioria dos eleitores. Nem conseguiu apoio nem respaldo.
Collor teve o mandato cassado pelo Congresso devido à suspeita de que se envolvera em grossa roubalheira. O que Marina tem a ver com Jânio e Collor? Por enquanto nada. E é razoável supor que nada venha a ter.
Como de Collor, diz-se que Marina chegaria à presidência sem base de sustentação no Congresso. Mas não foi por isso que Collor caiu.
O PSB de Marina é um partido de médio porte. Se eleita, ela pretende governar com “os melhores”. Nada impede que haja “melhores” em todos os partidos. E que por isso ela acabe contando com uma bancada razoável de deputados e senadores.
Marina nada tem de boba. Anunciou que governará somente quatro anos. Ainda não disse, mas o provável é que se veja tentada a ficar à margem de sua sucessão. Para dar o bom exemplo. Para evitar o uso na eleição da máquina administrativa.
Sendo assim por que o Congresso criaria dificuldades para ela? A sucessão de Marina seria deflagrada logo com dois anos de governo.
O PSDB de Aécio está pronto para anunciar seu apoio a Marina no segundo turno. A essa altura, ninguém ali, nem mesmo Aécio, acredita que Marina possa se perder pelo meio do caminho.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não esconde dos mais íntimos sua opinião favorável a que o PSDB, se convidado, ajude Marina a governar. O destino do PT será a oposição.
Por falar em PT: você viu Lula por aí?
Corre a informação de que ele não está bem de saúde. E de que só por isso participa pouco da campanha de Dilma.
Viajou com ela a alguns Estados. Gravou mensagens para a televisão. Mas nada que lhe cobrasse muito esforço. Certo? Lorota!
A saúde dele vai bem. Lula espera que Dilma suplique sua ajuda.
Dilma pensou que venceria sem dividir o palco com Lula. Arrisca-se a ser vítima de sua própria arrogância.

Marina Silva e Aécio Neves – Foto: Pedro França