sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

"Muito o que falar", editorial Folha de São Paulo

Evaristo Sá/AFP
Joesley Batista, a partner in the JBS company, the world's largest animal protein processor, testifies before the Inquisition Parliamentary Committee investigating JBS's activities, at the National Congress in Brasilia, on November 28, 2017. Joesley and his brother Wesley headed the called 'JBS scandal' when they presented recordings involving Brazilian President Michel Temer, several ministers and lawmakers in cases of corruption. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA1057
O empresário Joesley Batista durante depoimento na CPI da JBS


Invocando seus direitos constitucionais, o empresário Joesley Batista, do grupo JBS, manteve-se em silêncio na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que examina as circunstâncias de sua célebre delação premiada.

Contando com 34 membros titulares, entre deputados federais e senadores —dos quais ao menos oito receberam doações eleitorais da própria JBS—, a CPMI tem se transformado em instrumento para desqualificar as graves suspeitas que incidem sobre o presidente Michel Temer (PMDB).

Já ignorada pela maioria da Câmara, foge também do horizonte da comissão a sibilina conversa entre Temer e Batista, à qual se sucedeu a apreensão de uma mala de dinheiro nas mãos de um intermediário indicado pelo primeiro.

É no sentido inverso que se encaminha a maior fatia do colegiado, destacando os equívocos —de resto preocupantes e reais— da Procuradoria-Geral da República em suas diligências e acusações.

Seja como for, sua relevância como instrumento de inquérito mostra-se praticamente nula. Diante da mudez do inquirido, revelou-se um palanque para que, com um pouco mais de tempo de exposição televisiva, parlamentares tentem emergir do anonimato.

Enquanto o empresário se calava, seguiam-se provocações pessoais, frases de efeito e ataques generalizados a terceiros.

Beneficiário de R$ 103 mil em doações da JBS, o relator da CPMI, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirmou que Joesley Batista, em sua trajetória à frente do grupo, não se contentara em ser um "mafiosinho de terceira categoria".

Outros congressistas pediram esclarecimentos sobre seus adversários políticos regionais. Vários trataram de defender-se de um dos pontos mais polêmicos da delação do empresário —o que dizia ter superado 1.800 o número dos políticos agraciados com propina.

Seria o caso de dizer, sem dúvida, que o mais indicado aos membros da comissão teria sido seguir a estratégia do próprio depoente, mantendo-se em silêncio.

Um deles, Paulo Pimenta (PT-RS), deu voz de prisão a uma militante que o acusara de ser ladrão; o mesmo deputado, ao questionar o dono da JBS, comparara autoridades da Operação a Jato a torturadores do regime militar.

Apesar de todos os esforços recentes, continuam os políticos brasileiros, em boa parcela, sob o foco de suspeitas e acusações.

Uma única comissão, por certo, não será suficiente para dar a tantos nomes ocasião para discursar em defesa própria ou dissipar o descrédito que os acomete.