ONG registra mais de 26 mil homicídios em 2017, um índice de 89 assassinatos por cada 100 mil habitantes, o que coloca o país entre os mais violentos do mundo; grande parte da selvageria é causada ‘por disputas por comida’
O Estado de S.Paulo
Caracas - A grave crise econômica e a escassez de alimentos mantiveram os índices de violência na Venezuela entre os mais altos da América Latina em 2017. Segundo levantamento anual divulgado nesta quinta-feira, dia 28, pelo Observatório Venezuelano de Violência (OVV), no ano passado, 26.616 pessoas foram assassinadas, uma taxa de 89 vítimas a cada 100 mil habitantes – a segunda maior da América Latina, atrás apenas de El Salvador.
Do total de mortes, segundo o Relatório Anual de Violência 2017, 16.046 correspondem a homicídios – 5.535 a assassinatos por resistência à autoridade e 5.035 mortes ainda sob investigação. O número de homicídios ficou praticamente estável em relação ao ano passado, com uma queda de 3%. Ainda assim, foram mais de 72 mortes por dia.
Em 2017, três fatores foram determinantes para a violência na Venezuela, segundo o relatório: a queda vertiginosa da qualidade de vida dos venezuelanos, a dissolução sistemática do estado de direito no país e o aumento da violência e da repressão por parte do Estado.
“Aumentou a violência entre os cidadãos. Há uma nova forma de criminalidade, inédita no país, vinculada à agressividade pela concorrência por bens e serviços, à fome e à escassez de bens e produtos alimentares”, afirmou o sociólogo Roberto Briceño-León, diretor da OVV.
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“O mais espantoso dos dados de 2017 são as causas de algumas das mortes, provocadas por disputas por alimentos e até entre integrantes da mesma família”, disse Briceño-León. “Muitas vezes, essas disputas familiares levam à violência doméstica, quando os membros da família discutem pelos poucos alimentos que há no lar, o que tem levado à situações difíceis, duras e à algumas mortes violentas.”
Segundo a OVV, a grave crise institucional também ajuda a aprofundar a violência. “A Venezuela passou a ser um país que tem duas assembleias nacionais (o Parlamento e a Constituinte), dois ministérios públicos e dois supremos tribunais de justiça”, diz Briceño-León. “Passou a haver dois mecanismos para produzir normas e leis. É uma sociedade que não tem mecanismos de controle civilizado da violência.”
A prova disso, segundo ele, é o alto número de mortes por resistência à autoridade. O estudo indica que, em média, a cada semana, morrem 106 pessoas por ações de policiais ou militares. Em contrapartida, ao menos 438 agentes de segurança foram assassinados em todo o país. “Se os bandidos matam os policiais, os policiais vão matar os delinquentes”, afirmou o diretor da OVV. “A cifra deixa claro que os policiais não confiam no Judiciário da Venezuela e fazem justiça com as próprias mãos.”
Crítica. O governo venezuelano criticou o levantamento e divulgou os dados oficiais de homicídios no país nesta quinta-feira, dia 28, quase ao mesmo tempo que a OVV. Por meio de sua conta no Twitter, o ministro venezuelano do Interior e Justiça, Néstor Reverol, afirmou que 14.389 pessoas foram assassinadas em 2017 – uma taxa de 46,4 mortos por cada 100 mil habitantes, quase a metade do índice registrado pela OVV. “Conseguimos reduzir os delitos em 20,9% e continuaremos a trabalhar arduamente para reduzir a violência no país”, escreveu Néstor. / AFP, EFE e REUTERS
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