Eduardo Laguna, O Estado de S.Paulo
A compra de participações de empresas brasileiras por estrangeiros voltou a subir este ano, após dois anos de crise, e tem sido o principal motor por trás do crescimento dos investimentos internacionais no Brasil. Entre janeiro e novembro, mais de US$ 50 bilhões entraram no País, valor 12% acima do total injetado nos 11 primeiros meses de 2016, segundo balanço das contas externas divulgado pelo Banco Central (BC).
Já os empréstimos corporativos globais recuaram no mesmo período. Nos 11 meses deste ano, a concessão de crédito atingiu US$ 14,386 bilhões, queda de 18,7% ante janeiro a novembro de 2016. Mas o saldo geral é positivo. A entrada direta de capital estrangeiro no País totalizou até novembro US$ 65,035 bilhões, um crescimento de 3,4% sobre o mesmo período do ano passado.
O maior apetite por parte dos investidores internacionais reflete os preços mais baratos dos ativos brasileiros, por conta da recessão, as oportunidades de investimentos trazidas pelos leilões em infraestrutura e, principalmente, a perspectiva de recuperação da economia brasileira no longo prazo, de acordo com economistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão. A maior liquidez global também fez com que os investidores passassem a olhar negócios em países emergentes, trazendo mais recursos para o Brasil.
A leitura do mercado é que os investimentos estrangeiros mostram hoje uma composição mais “benigna” do que foi no ano passado, quando também cresceram, mas em razão de empréstimos corporativos feitos entre empresas de um mesmo grupo econômico.
Energia puxa. O resultado é puxado pelo setor de serviços, o que mais tem atraído investimentos estrangeiros no País. No acumulado deste ano, 63% de todo investimento em participações feito no País foi para as empresas de serviços. Só no setor de energia, que mais recebeu investimentos, desembarcaram mais de US$ 12 bilhões, estimulado por grandes transações – entre elas, a compra por grupos internacionais de quatro usinas hidrelétricas que pertenciam à Cemig num valor total de R$ 12,1 bilhões e a aquisição da CPFL pela chinesa State Grid. Os leilões de transmissão também atraíram capital estrangeiro. Em todo o ano passado, os investimentos estrangeiros em empresas de energia não passaram de US$ 3 bilhões.
No setor de transporte, com a transferência de aeroportos para a iniciativa privada, os investimentos chegaram a US$ 4 bilhões entre janeiro e novembro, um salto de 620% em relação aos US$ 555 milhões de igual período do ano passado.
“Mesmo no período de crise, as empresas não perderam de vista que o Brasil tem um mercado muito grande e que pode servir de plataforma de exportação a mercados vizinhos em crescimento”, disse Adriana Dupita, economista do Santander. “Quando você sai de um cenário de recessão, como foi nos últimos dois anos, para um quadro de recuperação, como começou a acontecer neste ano, os investidores têm mais motivos para redobrar as apostas”, afirmou Adriana.
Expectativa. Nas projeções do Banco Central, o fluxo de investimentos estrangeiros no Brasil, incluindo tanto os empréstimos corporativos quanto as compras de participações, deve terminar 2017 em US$ 75 bilhões – até o mês passado somava US$ 65 bilhões e deve alcançar US$ 80 bilhões em 2018.
A expectativa de crescimento moderado para 2018 reflete a cautela dos investidores por conta das incertezas sobre as eleições do próximo ano.
Para o economista Silvio Campos Neto, da Tendências, embora a injeção de recursos estrangeiros tenha mostrado reação, os investimentos seguem bem abaixo do padrão observado até 2014, quando passavam de US$ 90 bilhões. “Não são números tão entusiasmantes. Para voltar a US$ 90 bilhões ou US$ 100 bilhões ao ano, será preciso aguardar pelo fim das eleições e por maior clareza sobre a política econômica do próximo governo.”