segunda-feira, 22 de maio de 2017

Londres multa quem estacionar perto de escolas, mas há outras alternativas

Marcus Leoni/Folhapress
Incentivar os pais a não levarem seus filhos à escola é uma das formas de diminuir congestionamentos
Incentivar os pais a não levarem seus filhos à escola é uma das formas de diminuir congestionamentos

Leão Serva - Folha de São Paulo


Você sabia que cerca de um terço do trânsito que congestiona São Paulo é causado pelos pais que levam filhos à escola de carro? Você é um deles? Se não é, seu vizinho é; se nem você nem seu vizinho, o colega de trabalho leva. E depois, o progenitor segue para o trabalho, motorizado pelo dia todo. O resultado é que o volume de carros nas ruas em época de aula é 20% a 30% maior que nas férias.

O pior desse mau hábito é que, ao chegar na escola, a entrega jamais é rápida e eficiente: muitos param em fila dupla, outros esperam com motor ligado até chegar bem na frente do portão para sua excelência descer. E na hora da saída a criança quase nunca está no ponto de encontro. Novas filas se formam, os impacientes aceleram em ponto morto, outros deixam em marcha lenta, sempre com os motores ligados.

Escolas provocam gargalos até em áreas de trânsito ameno. E são focos de uma poluição totalmente desnecessária, que afeta crianças e jovens com problemas respiratórios decorrentes de inalação de poluentes.

São Paulo tem pouco mais de dois milhões de estudantes menores de idade. De todas as pessoas que se deslocam mais que meia hora por dia, 33% usam carro (segundo a pesquisa Origem e Destino, que há 50 anos monitora a mobilidade dos paulistanos). Quando começam as férias, essa proporção cai. O mesmo ocorre em quase todo o mundo.

Por isso, uma das formas de diminuir congestionamentos nas grandes cidades é incentivar os pais a não levarem seus filhos à escola.

Algumas prefeituras locais de Londres proibiram estacionamento de veículos em volta de escolas para impedir que cheguem até o portão. A multa nos bairros que já implantaram a medida é de 130 libras. São R$ 600 por parar o carro na quadra da escola, na chegada ou na saída do período letivo, é mole? Tem muita gente reclamando da indústria da multa na capital britânica; outros tantos foram convencidos pelo argumento sobre a saúde dos seus pequenos.

É uma medida extrema. Antes, há muitas providências possíveis, como incentivar os rodízios, as peruas, o uso de transporte público ou bicicleta.

Já existem várias soluções e muita gente só precisa de um empurrãozinho para adotar uma delas, economizar o custo do deslocamento e ter uma vida mais confortável. E, quem sabe, até aproveitar para abandonar o carro pra sempre.

Muitos adotam um motorista de táxi conhecido da família; recentemente surgiu o Uber. O rodízio é ainda mais barato. Para quem mora perto da escola, uma boa ideia foi criada por pais de Santa Cecília que dão "carona a pé": um pai conduz o filho e seus colegas, cuida da segurança e da travessia das ruas.

Os estudantes que vão com outros para a escola têm muito mais prazer no deslocamento. Há uma química melhor, digamos, entre as pessoas da mesma idade.

Durante muitas décadas, ter carro era sinal de conforto, não havia transporte mais rápido na cidade de São Paulo. Tudo isso acabou com o aumento da frota. Hoje os automóveis não cabem nas ruas, todo deslocamento envolve congestionamentos.

A ida para o colégio se torna um estresse, as crianças sentem isso. Antes de gerar uma nova "indústria da multa", que tal criar outro jeito de seu filho chegar à escola sem ter de levá-lo todos os dias?