O número de pedidos de asilo de venezuelanos no Brasil até abril já se aproxima do total registrado em todo o ano de 2016, mostra levantamento do Comitê Nacional de Refugiados feito pela Polícia Federal (PF) a pedido da Folha.
As estatísticas, recebidas nesta segunda-feira (29), mostram que 3.181 cidadãos caribenhos fizeram o pedido nos quatro primeiros meses do ano, contra 3.375 de janeiro a dezembro de 2016.
Bruno Kelly - 8.mai.2017/Reuters | ||
Índia da etnia venezuelana warao descansa com seu filho em baixo de viaduto de Manaus (AM) em maio |
São computados nesse total todas as solicitações, sem especificar o status. O processo de refúgio completo costuma durar mais de um ano, e ao longo dele o candidato pode permanecer no Brasil.
No ano passado, a Venezuela foi o país de origem de 30% dos solicitantes de refúgio no país —entre 2010 e 2013 a liderança era ocupada por países africanos, e em 2014 e 2015, pela Síria.
Outro exemplo do fluxo intenso rumo ao Brasil é a quantidade de entradas de venezuelanos, incluindo turistas e moradores da fronteira. Segundo a PF, foram 575 mil registros de ingresso no território nacional até o fim de abril, contra 947 mil em 2016.
A crise, porém, ainda não influenciou a emissão da carteira de identidade de estrangeiro. Houve 87.545 requerimentos no ano passado e 21.015 nos quatro meses.
As estatísticas também não mostram os efeitos resolução do Conselho Nacional de Imigração que libera a residência automática de dois anos aos venezuelanos e aos cidadãos de Guiana e Suriname, anunciada em março pelo governo de Michel Temer.
CRISE HUMANITÁRIA
O crescimento é uma das consequências do agravamento da crise humanitária no país governado pelo presidente Nicolás Maduro.
Relatório da ONG Human Rights Watch divulgado em abril revelou que a maioria dos imigrantes deixa sua terra natal em busca de atendimento médico e comida.
O intenso fluxo dos cidadãos do país vizinho levou ao colapso dos sistemas de saúde e de assistência social em Roraima e já começa a afetar o vizinho Amazonas.
Os números da PF também não mostram os efeitos na imigração dos dois meses da onda de protestos da oposição contra Maduro, que já deixaram 61 mortos. Rivais e aliados do chavista voltaram às ruas nesta segunda-feira.
Em discurso no fim da tarde, o presidente disse que a Assembleia Constituinte que deseja fazer é "Hugo Chávez vivo, doa a quem doer".
Ele responde às críticas de ex-aliados, como a procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz e dois juízes do Tribunal Supremo de Justiça, que consideram a troca da lei máxima uma violação do legado chavista.