terça-feira, 30 de maio de 2017

Pedidos de refúgio de venezuelanos no Brasil saltam em quatro meses

Diego Zerbato - Folha de São Paulo


O número de pedidos de asilo de venezuelanos no Brasil até abril já se aproxima do total registrado em todo o ano de 2016, mostra levantamento do Comitê Nacional de Refugiados feito pela Polícia Federal (PF) a pedido da Folha.

As estatísticas, recebidas nesta segunda-feira (29), mostram que 3.181 cidadãos caribenhos fizeram o pedido nos quatro primeiros meses do ano, contra 3.375 de janeiro a dezembro de 2016.

Bruno Kelly - 8.mai.2017/Reuters
Índia da etnia venezuelana warao descansa com seu filho em baixo de viaduto de Manaus (AM) em maio
Índia da etnia venezuelana warao descansa com seu filho em baixo de viaduto de Manaus (AM) em maio

São computados nesse total todas as solicitações, sem especificar o status. O processo de refúgio completo costuma durar mais de um ano, e ao longo dele o candidato pode permanecer no Brasil.

No ano passado, a Venezuela foi o país de origem de 30% dos solicitantes de refúgio no país —entre 2010 e 2013 a liderança era ocupada por países africanos, e em 2014 e 2015, pela Síria.

Outro exemplo do fluxo intenso rumo ao Brasil é a quantidade de entradas de venezuelanos, incluindo turistas e moradores da fronteira. Segundo a PF, foram 575 mil registros de ingresso no território nacional até o fim de abril, contra 947 mil em 2016.

A crise, porém, ainda não influenciou a emissão da carteira de identidade de estrangeiro. Houve 87.545 requerimentos no ano passado e 21.015 nos quatro meses.

As estatísticas também não mostram os efeitos resolução do Conselho Nacional de Imigração que libera a residência automática de dois anos aos venezuelanos e aos cidadãos de Guiana e Suriname, anunciada em março pelo governo de Michel Temer.



CRISE HUMANITÁRIA

O crescimento é uma das consequências do agravamento da crise humanitária no país governado pelo presidente Nicolás Maduro.

Relatório da ONG Human Rights Watch divulgado em abril revelou que a maioria dos imigrantes deixa sua terra natal em busca de atendimento médico e comida.

O intenso fluxo dos cidadãos do país vizinho levou ao colapso dos sistemas de saúde e de assistência social em Roraima e já começa a afetar o vizinho Amazonas.

Os números da PF também não mostram os efeitos na imigração dos dois meses da onda de protestos da oposição contra Maduro, que já deixaram 61 mortos. Rivais e aliados do chavista voltaram às ruas nesta segunda-feira.

Em discurso no fim da tarde, o presidente disse que a Assembleia Constituinte que deseja fazer é "Hugo Chávez vivo, doa a quem doer".
Ele responde às críticas de ex-aliados, como a procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz e dois juízes do Tribunal Supremo de Justiça, que consideram a troca da lei máxima uma violação do legado chavista.