quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Republicanos cobram inquérito sobre relação Trump-Rússia


Em dezembro de 2015, Michael Flynn e Vladimir Putin se encontram em jantar de gala - SPUTNIK / REUTERS


Henrique Gomes Barista - O Globo


Renúncia de conselheiro de Segurança Nacional reaviva questionamentos internos


WASHINGTON - A demissão de Michael Flynn, conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, aumentou a crise que envolve o novo governo dos EUA e sua polêmica relação com a Rússia. Até senadores republicanos pediram uma investigação sobre o caso, que complicou ainda mais o presidente, após o porta-voz da Casa Branca ter admitido que Trump sabia há algum tempo de que seu subordinado havia tido comunicações secretas com o governo de Vladimir Putin. O episódio ainda expôs divisões importantes dentro do governo, com os principais assessores de Trump defendendo versões diferentes sobre o episódio.

O segundo senador na hierarquia republicana, John Cornyn, e outros parlamentares em cargos de peso no Congresso pediram a intervenção da Comissão de Inteligência. O senador Bob Corker, que chefia a Comissão de Relações Exteriores, afirmou que o caso reforça a tensão com a Rússia. E Lindsey Graham, também republicano, defendeu uma investigação específica:

— Quero saber: ele fez isso por conta própria ou foi instruído por alguém? — disse Graham, indicando que pode ampliar os pedidos de investigação.

De acordo com Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, Trump sabia há semanas que Flynn enganou o vice-presidente Mike Pence e outros funcionários do governo sobre o conteúdo de sua conversa com Sergey Kislyak, o embaixador russo nos Estados Unidos, durante a transição do governo. O advogado da Casa Branca, Don McGahn, havia informado a Trump num relatório de 26 de janeiro que Flynn, apesar de suas declarações em contrário, discutira as sanções dos EUA com o representante de Moscou, impostas por causa da anexação da Crimeia em 2014, e ampliadas após a espionagem russa nas eleições americanas de novembro.

Versões contraditórias
O episódio ampliou as dúvidas sobre o próprio presidente. Na sexta-feira, questionado sobre uma reportagem do “Washington Post” que tratava de supostas falhas na conduta de Flynn, Trump desconversou:

— Eu não sei sobre isso, eu não vi. Vou ver isso — disse Trump a repórteres no avião presidencial.

Spicer disse que Trump pediu a Flynn para entregar sua renúncia depois que a confiança do presidente em seu conselheiro foi “danificada irremediavelmente”.

— A erosão desta confiança (de Trump em Flynn), francamente, era a questão — admitiu Spicer. — O presidente sabia há semanas que o general Flynn não estava sendo verdadeiro.

Spicer negou categoricamente que Trump tenha pedido a Flynn — que pode sofrer ação criminal pelo caso — que abordasse a questão das sanções em suas conversas com Kislyak. Perguntado se o presidente tinha consciência de que Flynn poderia ter planejado discutir o tema com o funcionário russo, o secretário de Imprensa respondeu:

— Não, absolutamente não.

Flynn foi um dos primeiros apoiadores da campanha de Trump e chegou a ser cotado para ser vice na chapa do magnata. O general aposentado é a primeira demissão dos primeiros 25 dias de governo do republicano, e ajudou Trump em alguns de seus atos mais polêmicos, como a proposta de proibir a entrada de pessoas de sete países muçulmanos e suspender o recebimento de refugiados — que está suspensa por uma decisão judicial.

Já a relação com a Rússia sempre foi uma dor de cabeça para Trump: relatórios do governo de Barack Obama indicaram que Moscou fez ciberataques ao Partido Democrata e vazou conversas com o objetivo claro de beneficiar a eleição de Trump, que regularmente elogia Vladimir Putin.

O líder democrata do Senado, Chuck Schumer, pediu uma investigação sobre possíveis violações criminais de Flynn. Já Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara, apelou ao FBI para “acelerar” sua investigação da conexão russa com o governo Trump e disse que o Congresso deveria pedir uma comissão bipartidária, independente e externa para “investigar plenamente” a Rússia.

Em reação, o Kremlin disse que este é um assunto interno dos Estados Unidos.

— Dissemos o que queríamos dizer — declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a jornalistas.

E neste momento delicado, a Casa Branca garantiu que Trump cobrou de Moscou a devolução da Península da Crimeia à Ucrânia e um alívio das recentes tensões no Leste ucraniano.

— O presidente Trump deixou bastante claro que espera do governo russo que amenize a violência na Ucrânia e devolva a Crimeia — disse Spicer em coletiva de imprensa. — Ao mesmo tempo, ele espera ter uma boa relação com a Rússia.

O general aposentado Keith Kellogg, que chefiava o gabinete do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, foi nomeado conselheiro de Segurança Nacional interino.