Cristiane Jungblut - O Globo
O PT do Senado decidiu nesta quarta-feira participar da Mesa do Senado e indicou nesta quarta-feira formalmente o senador José Pimentel (PT-CE) para ser o primeiro-secretário, cargo importante da Mesa Diretora. Senadores do PT se reuniram com o candidato do PMDB ao comando da Casa, Eunício Oliveira (CE), que deve ser eleito hoje. Mas o PT vai liberar a bancada na votação, ou seja, não dará apoio oficial a Eunício, mantendo o discurso que apenas quer o direito ao cargo como o critério da proporcionalidade permite.
Na prática, porém, venceu a posição pragmática, ao contrário do PT da Câmara. A esquerda do PT não queria o acordo no Senado.
O site do GLOBO antecipou ontem que Eunício incluiu Pimentel na sua chapa, não acreditando na resistência do PT. Mas, para não irritar a esquerda do partido, a bancada de dez senadores ficou liberada na votação para presidente, ou seja, não apoia o nome de Eunício. Mas o voto é secreto no Senado. A solução de garantir cargo na Mesa, respeitando a proporcionalidade, sem ter que declarar voto em Eunício foi articulada pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) e pelo atual vice-presidente da Casa, Jorge Viana. O GLOBO obteve a informação de que eles e outros senadores chamados de independentes se reuniram com o próprio candidato do PMDB à presidência na noite de ontem para que ele garantisse o direito à proporcionalidade e algumas reivindicações.
Até mesmo o senador Roberto Requião (PMDB-PR) participou da conversa e desistiu de lançar candidatura.
— O PT está indicando, como garante a proporcionalidade e a Constituição, o nome de Pimentel para a secretaria do Senado. O senador Eunício disse que vai respeitar a proporcionalidade na Casa. Mas o PT liberou o voto (para presidente). No PT, cada um vai votar com sua consciência — disse Jorge Viana.
Apenas Lindbergh Farias (PT-RJ) se negou a apoiar o entendimento. A chapa será única. A votação para o comando do Senado será por urna eletrônica pela primeira vez. O processo começará às 16h.
ALA ESQUERDA DO PT REAGE
A ala esquerda do partido já reagiu ao acordo no Senado. Em nota, os senadores Lindbergh Farias, Fatima Bezerra (RN) e Gleisi Hoffmann (PT-PR) elogiou o PT da Câmara e criticou o do Senado.
"Mas infelizmente a bancada do PT no Senado optou por outro caminho. Superestimando a luta institucional e insensível ao apelo da militância, a maioria da bancada preferiu não tomar uma posição clara, autorizando os e senadoras petistas a votarem como bem entenderem. É realmente lamentável. Um equívoco político que cobrará seu preço. Mesmo em um momento de ruptura democrática, a maioria da bancada do PT no Senado optou por se render à institucionalidade, fechando os ouvidos para a opinião de sua militância e para as opiniões dos principais movimentos sociais que protagonizam a resistência democrática.
Além de expressar nossa decepção com essa atitude, queremos aqui agradecer a cada militante que atendeu ao nosso convite e participou desse debate. Não fomos de todo vitoriosos, mas a militância do PT demonstrou que é combativa, que está disposta a defender o nosso partido e corrigir seus rumos. A decisão da bancada do PT na Câmara demonstra que valeu a pena nossa", diz a nota.