sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Forografia: Categoria se renova com indicados 'virgens' de Oscar

Daigo Oliva - Folha de São Paulo


Quatro dos cinco indicados ao Oscar de melhor fotografia em 2017 concorrem ao prêmio pela primeira vez. Mesmo o cinematógrafo que já disputou a estatueta, o mexicano Rodrigo Prieto, por "Brokeback Mountain", perdeu a chance que teve.

Os cinco jovens concorrentes –o mais velho, Prieto, tem 51 anos, e o mais jovem, James Laxton, 36– contrastam com a seleção do ano anterior, que reuniu nomes como Ed Lachman, 68 ("Carol"), John Seale ("Mad Max"), 74, e Roger Deakins, 67 ("Sicario"), este último esnobado 13 vezes pela Academia.

Leia a seguir comentários sobre cada um dos filmes na categoria.

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Moonlight - Sob a luz do luar [Moonlight, Estados Unidos, 2016], de Barry Jenkins (Diamond Films). Gênero: drama. Elenco: Mahershala Ali, Naomi Harris, Janelle Monae ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ator Ashton Sanders interpreta Chiron quando adolescente no filme 'Moonlight - Sob a Luz do Luar'

"Moonlight - Sob a Luz do Luar"

A oposição entre a sombria história do protagonista Chiron e as cores intensas de Miami, onde o longa foi filmado, é o trunfo de James Laxton em "Moonlight - Sob a Luz do Luar". O cinematógrafo norte-americano captou as imagens em um padrão de cores "anêmico", como se elas estivessem lavadas, para depois colorir o material digitalmente. Assim, as cenas ganham contraste e riqueza de cores sem perder detalhes que seriam absorvidos por sombras agressivas. A luz do título não é mera poesia: esculpe os rostos dos atores, todos negros, e faz com que a pele do elenco brilhe. "Moonlight" também se destaca pelos enquadramentos mais quebrados, menos óbvios, tanto devido à câmera solta, menos estática, quanto pela proporção do quadro (2.35 : 1), que faz com que a tela vire uma tira bem fininha.
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Dale Robinette/Summit Entertainment via Associated Press
This image released by Summit Entertainment shows Ryan Gosling, right, and Emma Stone in a scene from "La La Land," in theaters on December 2. (Dale Robinette/Summit Entertainment via AP) ORG XMIT: NYET942
Os atores Emma Stone e Ryan Gosling fazem o par romântico do longa 'La La Land'

"La La Land - Cantando Estações"

Se a Academia quiser seguir o padrão pirotécnico que dominou a categoria nos últimos três anos, quando o mexicano Emmanuel Lubezki venceu três estatuetas consecutivas pelos trabalhos em "Gravidade", "Birdman" e "O Regresso", o prêmio irá para Linus Sandgren. Os planos sequências que ocorrem durante os musicais, em que a câmera se move como se estivesse em um balé coreografado, com pequenos efeitos para juntar as tomadas, são características que aproximam a estética de "La La Land" da de "Birdman". O cinematógrafo sueco, responsável pela fotografia de dois longas recentes de David O. Russell, "Joy" e "Trapaça", trabalha agora com Damien Chazelle, cujo filme anterior, "Whiplash", também operava a partir do jazz. Chazelle e Sandgren transformam a câmera num instrumento musical e fazem transições belíssimas, como quando dividem sem sutileza o sonho e a realidade na narrativa dos personagens de "La La Land".

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Lion - O filme acompanha Saroo, que se perde da família quando criança, e anos depois, usa a tecnologia para tentar encontrar sua mãe
O ator Sunny Pawar interpreta o personagem Saroo quando criança em 'Lion: Uma Jornada Para Casa'


'Lion -Uma Jornada Para Casa'

Por outro lado, se o Oscar quiser premiar um "filme de Oscar", esse filme é o melodrama "Lion: Uma Jornada Para Casa", cheio de cenas deslumbrantes e feitas para emocionar. Aqui, o australiano Greig Fraser imprime estética bem diferente da que construiu em trabalhos passados, como "Foxcatcher" e "Rogue One: Uma História Star Wars". Isso demonstra versatilidade. Em "Lion", o cinematógrafo intercala tomadas abertas, que valorizam a imagem de uma Índia exótica, colorida e pobre, e closes nos rostos dos protagonistas, destacando o carisma de Sunny Pawar, que interpreta o personagem Saroo quando criança. 

Sobram desfoques e exuberância nas cores num filme que parece todo calculado, com ar heróico. Fraser já venceu o prêmio concedido pela ASC (American Society of Cinematographers) deste ano, no qual concorreu com os outros mesmos indicados ao Oscar. Favoritismo? Provável. Nos últimos dez anos, ASC e Oscar escolheram o mesmo vencedor sete vezes.
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This image released by Paramount Pictures shows Amy Adams in a scene from "Arrival," in theaters on November 11. (Jan Thijs/Paramount Pictures via AP) ORG XMIT: NYET949
A atriz Amy Adams como Louise em cena de 'A Chegada', dirigido pelo canadense Denis Villeneuve


'A Chegada'

Estava claro que, se Denis Villeneuve resolvesse filmar uma ficção científica, esta não seria uma ficção científica com cara de ficção científica. Para isso, o canadense sempre lembrado por dramas como "Incêndios", de 2010, contou com um cinematógrafo que também não tem a carreira ligada às atmosferas espaciais e artificiais que os fãs de ficção científica estão acostumados a ver. Logo no começo de "A Chegada", o norte-americano Bradford Young desfila sofisticação com tons frios e muitos planos geométricos, sempre com tomadas mais escuras. O desafio, na verdade, era ainda maior do que criar um visual diferente para esse tipo de longa: o interior da nave alienígena no qual os protagonistas passam grande parte do filme não poderia parecer algo ridículo. Young conseguiu. Em vez do exagero, criou um ambiente que mescla escuridão e claridade, com poucos elementos, mas muita força visual.
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Andrew Garfield e Shin'ya Tsukamoto em cena de 'Silence
Os atores Andrew Garfield e Shin'ya Tsukamoto em cena de 'Silence', dirigido por Martin Scorsese

'Silence'

Rodrigo Prieto é o mais experiente entre os concorrentes. Aos 51 anos, já foi indicado ao Oscar por "Brokeback Mountain" e filmou obras como "Argo", "O Lobo de Wall Street" e "Babel", um longa que exibe quatro tipos de fotografia. 

Agora, atua ao lado de Martin Scorsese numa superprodução sobre missionários jesuítas no Japão do século 17. "Silence" carrega as características de um romance histórico, com tons inspirados em pintores barrocos, como o próprio cinematógrafo explicou em entrevistas. Também foi filmado, em parte, com película, o que é muito bom para tons de pele e nuance dos rostos. Se a Academia o premiar, será a quarta vez consecutiva que o Oscar de melhor fotografia será dado a um mexicano.
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Veja a lista das outras categorias comentadas por profissionais, críticos e colaboradores da Folha.
Melhor filme, por Inácio Araujo
Melhor diretor, por Sergio Alpendre
Melhor animação, por Sandro Macedo
Melhor documentário, por Aline Pellegrini
Melhor documentário de curta-metragem, por Lívia Sampaio
Melhor roteiro original, por Francesca Angiolillo
Melhor roteiro adaptado, por Francesca Angiolillo
Melhor ator, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz, por Teté Ribeiro
Melhor ator coadjuvante, por Guilherme Genestreti
Melhor atriz coadjuvante, por Teté Ribeiro
Melhor montagem, por Matheus Magenta
Melhor direção de arte, por Guilherme Genestreti
Melhor trilha sonora, por Alex Kidd
Melhor canção original, por Giuliana Vallone
Melhor figurino, por Pedro Diniz
Melhor maquiagem e penteado, por Anna Virginia Balloussier