quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Após 38 anos, condenação põe fim a caso de criança desaparecida nos EUA

RICK ROJAS
DO "NEW YORK TIMES"


Pedro Hernandez, ex-balconista de uma mercearia que confessou ter atacado o menino Etan Patz, 6, depois de atraí-lo para um porão, foi condenado na terça-feira (14) por sequestro e homicídio. Foi um passo longamente aguardado para colocar um ponto final em um caso que deixou investigadores perplexos durante décadas.

Um júri de Manhattan condenou Hernandez no nono dia de deliberações, ao término do segundo de dois julgamentos longos que voltaram a chamar a atenção pública para o caso de Etan, que desapareceu em 25 de maio de 1979 a caminho do ônibus escolar, quando fazia o trajeto sozinho pela primeira vez.

Mark Lennihan - 28.mai.2012/Associated Press
FILE- In this May 28, 2012 file photo, an image of Etan Patz hangs on an angel figurine, part of a makeshift memorial in the SoHo neighborhood of New York where the boy lived. Pedro Hernandez, a man unsuspected for decades in one of the nation's most haunting missing-child cases, has been convicted nearly 38 years after 6-year-old Patz disappeared in New York City. (AP Photo/Mark Lennihan, File) ORG XMIT: NYR101
Foto de Etan Patz pendurada em estátua de anjo em memorial em Nova York

O mistério do caso de Etan abalou Nova York e o restante do país. Fotos do garoto loiro sorridente foram postadas em embalagens de leite, e cartazes de "desaparecido" apareceram nas primeiras páginas dos jornais e nos noticiários de televisão.

A votação em favor da condenação de Hernandez aconteceu quando os jurados voltaram ao tribunal na terça-feira após um recesso de três dias no fim de semana e assistiram –"pela centésima vez", segundo um jurado– à sua confissão filmada.

"As deliberações foram difíceis", disse o presidente do júri, Tommy Hoscheid. 

"Mas tivemos discussões construtivas, baseadas em lógica, que foram analíticas, criativas, adaptativas, compassivas e, em última análise, de partir o coração de qualquer um."

Anos de buscas infrutíferas e investigações de suspeitos não tinham trazido respostas para os pais de Etan, Stanley e Julie Patz. Pedro Hernandez vivia numa cidade pequena de Nova Jersey, nas proximidades de Filadélfia.

As autoridades voltaram sua atenção a ele quando seu cunhado telefonou a investigadores em 2012 para dizer que desconfiava que Hernandez fosse o responsável pelo crime.

Para Stanley Patz, o veredicto significa o fim de uma vigília que durou quase 38 anos.

"Estou muito grato por este júri ter decidido algo que eu já sabia havia muito tempo: que esse homem, Pedro Hernandez, cometeu algo realmente terrível muitos anos atrás", ele disse.

O resultado do julgamento foi uma vitória para o promotor público de Manhattan Cyrus R. Vance Jr., que optou por levar Hernandez a julgamento pela segunda vez depois de um julgamento anterior ter sido anulado.

"Estou aliviado. Acho que foi o resultado correto", ele disse.

Hernandez, 56, deve ser sentenciado em 28 de fevereiro. Segundo os promotores, pode ser condenado a entre 25 anos de prisão e prisão perpétua por sequestro e assassinato.

Os restos mortais de Etan nunca foram encontrados, e os promotores não contavam com provas científicas das cenas dos crimes com os quais corroborar seus argumentos. Procurando enfraquecer a credibilidade das confissões de Hernandez, seus advogados disseram que ele tem um transtorno de personalidade que lhe dificulta distinguir entre realidade e fantasia.

Tradução de CLARA ALLAIN