segunda-feira, 22 de julho de 2019

João Amoêdo: A renovação política é importante, mas sem atalhos

No final de 2010, quando junto com um pequeno grupo de pessoas resolvemos construir um partido político, não imaginávamos o trabalho e a burocracia envolvidos Tínhamos, contudo, algumas convicções: os 27 partidos existentes naquele momento não nos representavam. Queríamos deixar um País melhor para as futuras gerações, precisávamos promover a renovação de nomes e práticas na política e sabíamos que isso só seria possível com visão de longo de prazo e por intermédio de uma instituição partidária.
É com esta experiência que gostaria de tecer alguns comentários sobre a discussão atual envolvendo movimentos, partidos e mandatários dissidentes. Os partidos, como instituições, têm não só o direito, mas a obrigação de definir seus procedimentos, as suas práticas e seus valores.
O que precisamos cobrar das agremiações partidárias é coerência e transparência. Portanto, um dever fundamental de quem deseja se eleger, principalmente para renovar a política, é conhecer as normas, as práticas e os posicionamentos da legenda pela qual irá se candidatar. 
Os atalhos têm custo. Os mandatários, hoje dissidentes e que tiveram origem em movimentos de renovação, cumpriram um importante dever cívico ao se envolverem com a política e contribuíram para a melhoria do País ao votarem pela reforma da Previdência, mas erraram ao fazerem a escolha partidária. Erraram ainda mais aqueles que utilizaram recursos públicos destes partidos para financiar as suas campanhas.
A formação de grupos organizados pela sociedade civil é muito bem-vinda e demonstra como estamos evoluindo rapidamente na nossa participação como cidadãos. Entretanto, os movimentos em nome da transparência e da coerência precisam deixar claro quais são seus objetivos.
ctv-rnq-43146288
O presidente do Partido Novo, o empresário João Amoêdo  Foto: Felipe Rau/Estadão
Se,além de trazer gente nova para o setor público, treinar e dar suporte para eventuais candidatos, também pretendem participar da atuação política com uma “bancada” no Congresso, defendendo pautas próprias, precisam se transformar em um partido. 
O caminho correto para a atuação política, quando não encontramos uma instituição partidária que nos represente, é constituir uma nova. Façam como o movimento que deu origem ao NOVO: montem um partido, tenham uma ideologia clara com princípios e valores, não utilizem dinheiro público, deem transparência às suas fontes de recursos, realizem processo seletivo para a escolha dos seus mandatários, não misturem a gestão partidária com a gestão pública, exijam ficha limpa de todos os filiados, não tenham comissões provisórias e implementem ainda todas as outras mudanças que criticam nos partidos tradicionais.
Não é fácil, não é simples e não é rápido, mas é assim que teremos uma renovação de fato. Precisamos valorizar as instituições. Elas são fundamentais em um Estado de Direito e não existe mudança sustentável sem as mesmas. O caminho da mudança implica em assumirmos o protagonismo e em demandarmos liberdade, e não mais interferência estatal. A montagem de um partido, apesar da burocracia, está aberta a todos. É possível, o NOVO provou isso.

João Amoêdo é presidente nacional do Novo; fundador do partido, foi candidato à Presidência da República em 2018

João Amoêdo, O Estado de S.Paulo