terça-feira, 30 de julho de 2019

Novos debates nos EUA expõem diferenças entre Biden e democratas radicais

O segundo debate de pré-candidatos democratas à Presidência dos Estados Unidos, nesta semana, promete trazer à tona  as rivalidades entre os principais concorrentes a adversário de Donald Trump nas eleições de 2020. Os destaques devem ficar por conta de mais pancadaria contra o ex-vice-presidente Joe Biden, o favorito na disputa, e do embate inédito entre os dois concorrentes mais radicais: os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren.
O debate será dividido em suas etapas. Nesta terça-feira, 30, Sanders e Warren se enfrentam ao lado de outros nomes, como o ex-deputado pelo Texas Beto O’Rourke e a senadora por Minnesota Amy Klobuchar.
Já na noite de quarta-feira, 31, o debate será entre Joe Biden, a senadora pela Califórnia Kamala Harris, o senador por New Jersey Cory Booker, o ex-secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano Julian Castro e o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, entre outros.
No total, 20 pré-candidatos à Casa Branca participarão do debate transmitido pela TV, que será gravado em Detroit, Michigan. Os concorrentes passaram no filtro imposto pela direção do Partido Democrata para integrar o evento. Para participar dos debates desta semana, os pré-candidatos precisaram coletar doações de pelo menos 65.000 pessoas para sua campanha ou receber 1% de intenção de voto em um mínimo de três pesquisas nacionais ou estaduais.
A partir de agora, contudo, as apostas serão mais altas. Os debates desta terça e quarta-feira deve começar a reduzir o número de pré-candidatos democratas pela metade até o próximo encontro, que será em setembro. Para o evento seguinte, os concorrentes deverão ter pelo menos 2% das intenções de voto em um mínimo de quatro pesquisas, além de pelo menos 130.000 doadores.
 Segundo debate dos pré-candidatos democratas: Elizabeth Warren, senadora por Massachusetts, Bernie Sanders, senador por Vermont, Kamala Harris, senadora pela Califórnia, e Joe Biden, ex-vice-presidente
Segundo debate dos pré-candidatos democratas: Elizabeth Warren, senadora
por Massachusetts, Bernie Sanders, senador por Vermont, Kamala Harris,
senadora pela Califórnia, e Joe Biden, ex-vice-presidente
(Rebecca Cook; Mike Blake/Reuters)

Questões raciais em discussão

Biden lidera com 32% dos votos dos eleitores democratas, segundo a média das últimas pesquisas calculada pelo site RealClearPolitics. Mas perdeu terreno após o primeiro debate, em junho, para Kamala Harris, uma afro-americana da Califórnia que o confrontou sobre temas raciais. Harris defende a adoção de um sistema público de saúde com atendimento gratuito para todos os americanos – uma heresia para democratas menos progressistas.
Tanto Harris, que aparece com 10,5% das intenções de voto na média das pesquisas, como o senador Cory Booker, que tem 1,5%, têm denunciado posições polêmicas de Biden no passado, incluindo seu trabalho ao lado de senadores segregacionistas e sua oposição nos anos 1970 ao “busing”, um sistema de transporte para acabar com a segregação racial no ensino público.
Desta vez, Biden prometeu não “ser tão educado” quando for criticado, como se comportou no debate de junho. “Se querem falar sobre o passado, posso fazê-lo. Tenho um passado do qual me orgulho, e eles nem tanto”, disse.
O tema racial, muito sensível entre os eleitores negros, tem estado no centro de uma série de polêmicas nas últimas semanas, após o presidente Donald Trump alimentar as divisões com ataques a legisladores negros e de minorias étnicas. Trump disparou duros ataques verbais, totalmente racistas, contra parlamentares latinas e negras.
Os votos das populações afro-americana e latina podem ser dispensados por Trump, eleito por uma maioria branca e conservadora. Mas são essenciais para os democratas em todas as eleições nos Estados Unidos.

Sanders x Warren

Uma das grandes decepções da última rodada de debates foi que Elizabeth Warren e Bernie Sanders – os dois candidatos competindo pelos votos dos democratas mais progressistas – participaram da discussão em noites diferentes. Nesta terça, contudo, o confronto finalmente acontecerá. Ao que tudo indica, deve ser um dos principais embates da noite.
Warren ficou conhecida por seus planos detalhados sobre o alívio da dívida de estudantes universitários e a quebra dos monopólios do Vale do Silício, como Facebook e Google, entre outras propostas consideradas polêmicas nos Estados Unidos. No debate anterior, seus adversários não tiveram grande disposição para atacá-la, e ela saiu-se praticamente ilesa.
A senadora por Massachusetts está em terceiro lugar na média das pesquisas para o Partido Democrata, com 14% dos votos, logo atrás de Sanders, que aparece com 16,2% das intenções. Em alguns levantamentos pontuais, contudo, Warren já aparece em segundo lugar, perdendo apenas de Joe Biden.
Sua arrecadação durante o segundo trimestre de 2019, foi maior do que a de Sanders – 19,1 milhões de dólares, contra 18 milhões do adversário.
Assim como sua principal oponente do debate de hoje, o senador por Vermont destaca-se pelas propostas mais radicais. Autointitulado “socialista democrático”, Sanders não é oficialmente filiado ao Partido Democrata e se elegeu senador como um candidato independente. Ele foi pré-candidato durante as eleições de 2016, contra Hillary Clinton, escolhida para concorrer com Donald Trump pela Casa Branca.
Mas as ideias de Bernier Sanders encontram grande ressonância na ala mais jovem e à esquerda da legenda. Entre as suas principais plataformas estão o ensino superior gratuito, o aumento do salário mínimo e um programa de saúde pública gratuita para todos os americanos.
A primeira votação das primárias democratas ocorrerá em Iowa, no dia 3 de fevereiro de 2020. O vencedor da maioria das primárias do partido deverá enfrentar Trump, em novembro.


Julia Braun, AFP