quarta-feira, 31 de julho de 2019

‘Faço parte da direita com superego’, diz filósofo pernambucano Rodrigo Jungmann

O professor da Universidade Federal 

de Pernambuco, que apoiava 

Bolsonaro desde as eleições, anunciou 

seu rompimento com ele e afirma 

querer 'uma direita que pense antes

de falar'



Foto: Reprodução / O professor de filosofia da UFPE, Rodrigo Jungmann
No meio acadêmico das Humanidades, dominado pela esquerda, ele é uma das poucas vozes dissonantes, que assume sem constrangimento sua preferência pela direita. Nas eleições, ele deu a cara a tapa entre seus pares, ao apoiar o então candidato Jair Bolsonaro e estar ao lado de seu governo até agora. Mas, na terça-feira, 30, Raul Jungmann de Castro, professor de filosofia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) , anunciou o seu rompimento com Bolsonaro, por meio de um textão publicado no Facebook
“Sou mais de direita do que jamais fui. Sou menos bolsonarista do que um dia julguei possível ser”, diz Jungmann no post. “Orgulhosamente, faço parte da direita com superego. Quero uma direita que pense. Minimamente, uma direita que pense antes de falar.”
A gota d’água, segundo ele, foi quando Bolsonaro afirmou que, “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto para ele”, em referência a Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, pai do comandante da entidade, Felipe Santa Cruz.
“Eu odeio o comunismo, eu acho a maior parte dos comunistas pessoas cegas, idiotas ou perversas, mas é simplesmente grosseiro e desumano supor que um comunista seja incapaz de amor filial”, afirma. Não se tripudia, não se debocha, não se fala em tom de pouco caso da perda de um pai. Simples assim.”
Confira a seguir o texto publicado por Jungmann:
“Aos militantes raivosos que não entenderam a enormidade da abjeção cometida por Bolsonaro eu já dou uma explicação:
“Eu odeio o comunismo, eu acho a maior parte dos comunistas pessoas cegas, idiotas ou perversas, mas é simplesmente grosseiro e desumano supor que um comunista seja incapaz de amor filial.
“Não se tripudia, não se debocha, não se fala em tom de pouco caso da perda de um pai.
“Simples assim.
“Entenderam agora o que deveria ser óbvio desde já?
“Ou para muitos ser de direita no Brasil virou pretexto para deixar o superego de lado?
“Orgulhosamente, faço parte da direita com superego.
“‘Ah, mas o que ele disse foi que os próprios comunistas mataram o pai do presidente da OAB’
“A falta de evidência, o tom casual da declaração, sem consideração pelos sentimentos da família, tudo isso revela o mesmíssimo nível de baixeza. Para não mencionar o silêncio sobre algo de que ele supostamente tinha consciência há decênios, supondo que seja verdadeira a versão, e que teria a obrigação moral de informar aos interessados.
“Certa direita me terá na conta de traidor.
“Apenas não me furtei à tarefa de pensar. É que certa direita, em matéria de consciência moral, jamais vai além das quatro operações. É como se pedir conhecimento da fórmula de Bhaskara fosse uma demasia…
“Sou mais de direita do que jamais fui.
“Sou menos bolsonarista do que um dia julguei possível ser.
“Incorrem em erro patente e grosseiro todos aqueles que confundem essas duas categorias.
“Melhor dito, não sou mais bolsonarista em absoluto e me arrependo de um dia ter feito campanha para esse senhor.
“Quero uma outra direita. Uma direita que pense. Minimamente, uma direita que pense antes de falar… coisa impossível para o atual supremo mandatário.”
José Fucs, O Estado de São Paulo