terça-feira, 30 de julho de 2019

Startup que ajuda passageiros de avião com indenizações, Airhelp foca no Brasil

Fundada em Hong Kong e presente
em 30 países, AirHelp vai analisar 
legislação de voos domésticos; na 
Europa, empresa conquista
indenização e fica com 25% dos
valores recebidos por usuário



Com atuação em mais de 30 países, a startup AirHelp começa nesta terça-feira, 30, uma nova viagem com destino ao Brasil.  Com vasto fluxo de passageiros e a expectativa de retomada econômica, o viajante doméstico é o novo alvo da empresa, que ajuda quem enfrenta problemas com voos a buscar indenizações na Justiça. Fundada em Hong Kong, a empresa enxerga enorme mercado no País: segundo dados próprios, 20% dos voos no Brasil são interrompidos ou têm atrasos superiores a 15 minutos.
A startup já atua no País, mas antes tinha como base apenas a legislação europeia. Agora, já escalou advogados brasileiros para trabalharem nos casos e ampliou o foco na tecnologia de inteligência artificial em terras nacionais. Afinal, os números locais são vultosos: a AirHelp acredita que, apenas este ano, 2 milhões de passageiros enfrentarão atrasos e cancelamentos tão severos a ponto de terem direito à indenização de voo, de acordo com as leis brasileiras.
Em aplicativo da startup, usuário pode fazer consulta e manejar seus pedidos de indenização
Para o diretor do escritório jurídico da startup, Christian Nielsen, que fica baseado em Berlim, a legislação brasileira sobre direitos dos passageiros aéreos é uma das mais fortes do mundo. “Somos líderes mundiais na defesa dos direitos dos passageiros, então temos uma combinação perfeita”, disse Nielsen com exclusividade ao Estadão/Broadcast

Usuário faz consulta gratuita sobre direito à indenização

O trabalho da empresa basicamente é o de prestar orientação para registrar uma reclamação por interrupções de voos. A companhia argumenta que, com a contratação de seus serviços, a indenização é bem maior do que se a ação for feita pelo próprio usuário. Além disso, é menos desgastante para a vítima. Para Nielsen, apesar da lei brasileira ser voltada para o passageiro, ela também é bastante complexa. “É difícil para um único indivíduo avaliar quanto de indenização ele merece e com o que se deve contentar”, afirmou.
Quem se sente lesado por causa de um voo pode fazer uma consulta gratuita no site da startup para avaliar se a reclamação procede. De acordo com dados da AirHelp, o número de passageiros com direito a compensação dobrou de 500 mil, na primeira metade de 2018, para 1 milhão no primeiro semestre deste ano. Por dia, o cálculo leva em conta que 5,5 mil brasileiros podem sofrer interrupções de voo e reivindicar seus direitos.
“Se a companhia aérea se recusar a compensar o passageiro após a mediação, nós ajudamos os passageiros colocando-os em contato com nossa rede de advogados locais parceiros, que são especialistas em direitos aéreos dos passageiros”, explicou o diretor. E como a AirHelp ganha dinheiro? A empresa fica com 25% do valor que o passageiro receberá da companhia aérea. Se não receber, não terá que fazer pagamento para a start up.
Nielsen alega questões estratégicas da empresa para não revelar números locais, mas garantiu que, no mundo, a AirHelp já ajudou 13 milhões de viajantes a lutarem pelo direito de compensação e responsabilizar as companhias aéreas por graves interrupções de voos. O foco maior da companhia é a Europa por causa do conhecimento da EC261, uma legislação da UE, mas há atuações em outros países também, como Estados Unidos e Canadá.

Abertura do setor aéreo não foi influência, diz executivo

A abertura do setor aéreo para empresas estrangeiras não influenciou a decisão de expandir as operações no Brasil, de acordo com o diretor. “Ao colaborarmos com advogados locais, isso não influenciou muito nossas decisões. Vimos uma lei local muito forte, que poucos viajantes conhecem”. Ele também comentou que, como os direitos dos passageiros brasileiros estão entre os mais fortes do mundo, se tratou de uma escolha “óbvia” para lançar o primeiro serviço com base em leis locais da América do Sul.
“Por enquanto, é o único país da região onde podemos oferecer um serviço direto, mas qualquer viajante sul-americano que tenha problemas com uma interrupção de voo sob a legislação europeia ou brasileira é, naturalmente, mais do que bem-vindo”, disse, antecipando que a AirHelp já começou a pesquisar e testar casos em outros países da América do Sul. “Planejamos estar ativos na maior parte da América do Sul no período de dois a cinco anos”, estimou.
Além da sede em Hong Kong, a AirHelp conta com escritórios em Berlim, Nova York, Barcelona, Cracóvia e Gdansk. A empresa foi fundada pelos amigos Henrik Zillmer e Nicolas Michaelsen depois de muitos anos viajando pelo Sudeste Asiático. Incomodados por inúmeros atrasos de voo, sem nenhum recurso fácil para as companhias aéreas, decidiram criar a startup.

Célia Froufe,  O Estado de S. Paulo