Presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico) e vice da Fiesp, o empresário José Ricardo Roriz Coelho, 61, diz que a atuação do hoje ministro Sergio Moro (Justiça) à frente da Lava Jato foi um marco, inclusive por ter ajudado a melhorar o ambiente de negócios no país.
"Se hoje temos toda uma perspectiva de atração de capital, novos investimentos, é justamente porque a Lava Jato trouxe uma nova forma de relacionamento entre o setor privado e o público", afirma.
Para ele, o comportamento de Moro nos diálogos obtidos pelo site Intercept e divulgados até agora não demonstra parcialidade, mas uma relação necessária com o Ministério Público para combater a corrupção.
Como o sr. avalia o caso do vazamento dos diálogos envolvendo o ministro Sergio Moro? A primeira pergunta que me faço é: a quem interessa essa desestabilização do ministro? E por quê? O que o Moro fez foi o movimento mais positivo no Brasil nos últimos 50 anos, trazer para a opinião pública a relação promíscua entre empresários, políticos e lobistas, entre o setor privado e o público.
O resultado são centenas de pessoas julgadas. Essas pessoas têm sido defendidas pelos melhores advogados e juristas do Brasil, certamente os mais caros. Com frequência vão às instâncias superiores, buscando salvaguardas contra eventuais excessos e injustiças.
Pelo que a gente está falando, parece que todos os processos e julgamentos do Brasil foram perfeitos. Uma pessoa comum que tenha cometido qualquer tipo de crime não alcança tribunais superiores como essas pessoas têm alcançado.
E a quem interessa desestabilizar o Moro? Não estou dizendo que não possam ter sido cometidos excessos, mas temos várias instâncias em que eles podem ser julgados. Qual a agenda que o Brasil deveria estar hoje discutindo? A do desemprego, da falta de investimento, de recuperação econômica, da abertura comercial, de maior competitividade. A muitos não interessa essa agenda.
Do lado da Justiça, o ministro Moro deveria estar envolvido nos projetos de lei que combatem a corrupção de forma sistemática, grupos de extermínio, facções, drogas, produtos ilegais.
Há interesse em enfraquecer essa agenda? Há interesse de pessoas que de uma certa forma ainda não foram condenadas, ou mesmo algumas condenadas, de desestabilizar [o ministro]. Facções ligadas ao crime organizado têm todo interesse de desmontar isso.
Esse hacker disse em depoimento que viu algumas coisas graves. Grave é o que ele fez, hackear autoridades públicas. Mas o fato é que ele pegou algumas coisas, sejam elas verdadeiras ou não, e foram encaminhadas a uma pessoa que não é qualquer uma, foi candidata a vice-presidente da República, a Manuela [d'Ávila]. Tinha que imediatamente levar um fato dessa gravidade ao conhecimento da imprensa, Justiça, opinião pública. Não poderia ter agido como agiu. Pior foi ter saído do Brasil quando o negócio estourou. Por que ela não está aqui, para ajudar a esclarecer, dando depoimento?
De um lado você tem interesse do crime organizado, do outro, interesses políticos. Pelo que sei fala-se que foram hackeadas até mil pessoas. Por que pegou exatamente o trecho do Moro e soltou? E os outros? Aparentemente existe uma estratégia de soltar isso aos poucos para ajudar na desestabilização do ministro.
Os diálogos revelam uma proximidade de Moro com Deltan. Juiz não deveria ser imparcial? Não tenho formação em Direito para dizer até que ponto alguns limites foram ultrapassados. O que eu posso dizer é que hoje o crime, a corrupção, estão totalmente interligados com tecnologia, instrumentos de última geração, inclusive hackeamento.
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A velocidade com que hoje o mundo do crime e da corrupção se organizam demanda uma Justiça muito mais ágil, em que a inteligência policial tem que ter uma interface muito maior entre Ministério Público, Polícia Federal e Justiça. Sem que com isso se perca a imparcialidade. Se ele [Moro] for parcial, as instâncias superiores vão avaliar.
Para o sr. não está claro que ele foi parcial? Eu não vejo dentro dos diálogos alguma parcialidade. Se houve, você faz os reparos que tiverem de ser feitos.
Como uma eventual saída de Lula da prisão repercutiria no meio empresarial? Essa questão no meio empresarial não ocupa nem 2% do tempo. O Brasil tem suas instituições, que, independentemente de qualquer coisa, estão em pleno funcionamento, dentro das regras, dentro da Constituição.
Se o Lula está preso, é porque foi julgado em várias instâncias, e a condenação dele passou por um processo dentro da legislação brasileira. Se por acaso soltarem ele, avalio que vai ser pelo mesmo processo. Ninguém vai soltar o Lula por capricho de algum juiz.
Moro é o ministro da Justiça, chefe hierárquico da Polícia Federal e objeto da investigação. Ele deveria se afastar do ministério? O Moro deve ter falado com mais de 600 empresários, deve ter estudado a fundo todo esse caminho da corrupção, que está muito interligada com drogas, mundo do crime etc. Com toda a experiência de ter passado pela Lava Jato, é uma das pessoas mais bem preparadas para isso hoje.
O sr. acha que o ministro está enfraquecido? Pode ter se enfraquecido para um grupo pequeno, mas para a população de maneira geral os resultados alcançados por Moro, Polícia Federal e Ministério Público fazem com que a opinião pública esteja totalmente alinhada com ações visando o combate à corrupção. Todos também acham que, se teve excessos, têm que ser corrigidos.
O sr. acha que a imagem do Super Moro continua valendo? Isso eu acho até bom que aconteça. Não podemos achar que [combate à corrupção] é coisa de uma pessoa só, que se torna herói nacional. Tem de ser coisa da sociedade. Esse fato é até positivo, desmistificar isso de que o Moro sozinho é o grande guardião da honestidade.
Uma coisa que se falava muito no passado é que a Lava Jato atrapalhava a economia. Como o sr. avalia esse discurso? O que atrapalhava o país era a corrupção. Se hoje temos toda uma perspectiva de atração de capital, novos investimentos, é justamente porque a Lava Jato trouxe uma nova forma de relacionamento entre o setor privado e o público.
Muitos empresários se envolveram nesse esquema de corrupção. Hoje a relação com o governo é totalmente diferente. Se existiram empresários que faziam isso, e eu não estou dizendo que ainda não existam, hoje as pessoas têm medo, porque vários dos empresários mais poderosos do Brasil foram presos e condenados. Aquela sensação de impunidade que existia hoje não existe mais.
O sr. defende que Moro vá para o Supremo? É muito prematura essa discussão. O que eu gostaria de ver é ele estar focado na agenda dos projetos de lei, no combate à corrupção, e tenhamos uma posição muito mais firme sobre o crime organizado. Se lá na frente ele for bem-sucedido, e aí aparecer uma vaga, pode ser avaliado. O que mais atrapalharia agora e tiraria novamente o foco do combate ao crime é essa especulação se vai para o Supremo.
O que o sr. achou de o presidente dizer que o Glenn Greenwald pode pegar uma cana aqui no Brasil? Ao mesmo tempo que o presidente já declarou várias vezes que a imprensa tem de ser livre, ele dá uma declaração como essa, uma coisa inadequada. Ele pode ser punido desde que tenha prova, mas até agora não tem prova nenhuma de que cometeu infração à lei. Não vai ser o presidente da República que vai tomar essa decisão, vai ser a Justiça.
RAIO-X
Nome: José Ricardo Roriz Coelho
Idade: 61
Cargos: presidente da Abiplast (desde 2010), vice-presidente da Fiesp (desde 2009)
Formação: engenheiro mecânico pela UnB, com pós-graduação em marketing pela ESPM-SP e MBA pela Fundação Dom Cabral