segunda-feira, 29 de julho de 2019

Ronaldinho deve milhões e tem 57 imóveis bloqueados

Aposentado do futebol desde 2015, Ronaldinho Gaúcho acumula dívidas e problemas com a Justiça na sua cidade natal, Porto Alegre. 
O ex-jogador, eleito duas vezes o melhor do mundo, está com 57 imóveis bloqueados, 4 deles penhorados, pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por causa de multa ambiental de R$ 9,5 milhões. Além disso, tem R$ 7,8 milhões em protestos em 3 cartórios da capital gaúcha.
Entre março e abril deste ano, Ronaldinho Gaúcho teve 2 protestos, um de R$ 6,3 mi e outro de R$ 1 mi, em razão de dívida ativa de Porto Alegre.
No total, Ronaldinho deve, em IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana) e TCL (Taxa  de Coleta Domiciliar de Lixo) exatos R$ 9,91 milhões, informou a prefeitura à Folha por meio de sua auditoria-fiscal da receita municipal.
ex-jogador também é cobrado pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional por R$ 793 mil.
Com dois passaportes —ele tem cidadania espanhola— retidos, Ronaldinho não pode deixar o Brasil. O impedimento foi imposto pela Justiça em decorrência do não pagamento de multa determinada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Em julho, a defesa do ex-atleta entrou com recurso para tentar reaver o documento espanhol. Afirmou que a retenção se tratou de atitude "abusiva, arbitrária e sem fundamento legal". Acrescentou que o documento é do governo da Espanha e classificou a ação como "ilegal".
A origem do bloqueio dos imóveis e dos passaportes é inquérito instaurado pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente em 2009. O objetivo era averiguar danos ambientais causados por ele, seu irmão Roberto de Assis Moreira e a Reno Construções e Incorporações.
Segundo o Ministério Público, a Reno construiu em área preservação permanente, a pedido dos irmãos Assis, um trapiche de 142 metros, que liga o sítio do ex-jogador ao lago Guaíba, sem licença ambiental. A edificação adentrou 70 metros no lago (equivalente à largura de um campo de futebol), terminando em uma plataforma de pesca.
O presidente Jair Bolsonaro recebeu o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho em Brasília, em junho
O presidente Jair Bolsonaro recebeu o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho em Brasília, em junho - Instagram/Reprodução
Em 10 de janeiro de 2012, o juiz Mauro Caum Gonçalves, da 3ª Vara Cível de Porto Alegre, determinou a demolição do trapiche, da plataforma de pesca e da canalização na lagoa Guaíba em 30 dias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil e R$ 50 mil por cada obra irregular no local.
Gonçalves justificou o valor pelo fato de "Ronaldinho possuir elevado patrimônio financeiro" e "sendo conhecida a sua maneira de agir, pouco afeita às regras impostas". 
O processo transitou em julgado em fevereiro de 2015, mas os irmãos não foram localizados na fase de cumprimento de ordem judicial. O Ministério Público informa que com "o descaso dos réus" constituiu hipoteca sobre o sítio, mas que este já reunia "robusta dívida tributária". A multa, em 2018, era de R$ 8,5 mi, e o órgão afirma que tentou penhorar as contas dos irmãos, mas encontrou R$ 24. 
A multa imposta a Ronaldinho é de R$ 9,5 mi, valor atualizado em 2018. A Justiça determinou, então, o bloqueio dos 57 imóveis do ex-jogador. 
Em busca de valores em nome de Ronaldinho, a Justiça também intimou Atlético-MG e Nike do Brasil, patrocinadora do ex-atleta, para se manifestarem nos autos. 
O time de Belo Horizonte informou que entre 2016 e 2018, pagou R$ 830.165,00 ao ex-jogador pelo rompimento contratual feito em 2014. 
A companhia de material esportivo disse não ter contrato com Ronaldinho. A empresa ressalta que o vínculo dele é com outra empresa do Grupo Nike, a Nike European Operations Netherlands, e com a Planet Invest Fomento Comercial, sendo elas que realizam os pagamentos de direitos de imagem pela exclusividade com o ex-jogador.
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Folha teve acesso às matrículas dos imóveis no nome de Ronaldinho e à ação que tramita na Justiça do Rio Grande do Sul. Dos 57 imóveis indisponíveis, 55 estão no estado e 2 no Rio de Janeiro. 
O imóvel que gerou a multa ambiental tem 8,9 hectares às margens do lago Guaíba, na estrada de Ponte Grossa. Os irmãos Assis pagaram R$ 1,3 mi (R$ 2,5 mi atualizados) em 2008, pelo terreno.
Folha procurou os irmãos Assis. Eles não foram localizados. O advogado dos dois, Sérgio Felicio Queiroz, disse que não comentaria nada "porque está em segredo de Justiça". A Folha teve acesso aos autos no Fórum em Porto Alegre. As decisões sobre o caso estão divulgadas também no site do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. "Se entregaram [autos] no balcão, não se deram conta que está em segredo de Justiça", disse.
Queiroz negou que Ronaldinho tenha títulos protestados. "Com o município, não tem dívida ativa. Os IPTUs foram parcelados. Se você pesquisar na data de hoje, tem alguns meses que os protestos foram cancelados", disse.
Folha teve acesso às certidões de protesto na última quinta (26), horas antes de conversar com Queiroz.
"Se ficou lá, é porque não cancelaram ainda. Tem 300 milhões de pessoas que podem ser protestados por causa do IPTU. São vários imóveis, e ele fez parcelamento de todos."
Porém, a prefeitura respondeu à Folha, por meio de sua auditoria-fiscal da receita municipal, que, atualmente, Ronaldinho tem nove dívidas protestadas e não negociadas, cujo valor em aberto alcança R$ 7,88 milhões.
Ainda são mais sete dívidas não negociadas e ainda não protestadas, que somam R$ 62,7 mil, além de outros oito parcelamentos em atraso, com uma parcela pendente de R$ 1,26 milhões, e outros 21 parcelamentos em dia de uma dívida negociada, chegando a R$ 702 mil.

Carlos Petrocilo e Diego Garcia, Folha de São Paulo