O economista Paulo Guedes quer que o atual presidente do BC (Banco Central), Ilan Goldfajn, permaneça no comando da instituição em um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Há cerca de seis meses, quando Guedes se tornou o guru econômico de Bolsonaro, o economista convenceu o presidenciável da ideia de independência do BC, segundo pessoas que atuam na campanha do capitão reformado do Exército.
Três meses depois, em uma nova rodada de debates sobre seus planos para a economia, Bolsonaro teria demonstrado simpatia à permanência de Ilan no cargo até a metade de seu mandato (até 2022).
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Um convite formal não chegou a ser feito, mas Guedes já teria o sinal positivo do presidenciável para o nome de Ilan no comando do BC.
Na avaliação da equipe do candidato, Ilan poderia ajudar a neutralizar a insegurança de investidores quanto à capacidade de Bolsonaro enfrentar as dificuldades que já se apresentam para o primeiro ano de mandato.
O novo presidente assume o cargo já precisando de autorização do Congresso para cobrir R$ 285 bilhões em gastos obrigatórios, como aposentadorias e programas sociais.
Desde o fim de julho, Guedes e Ilan se encontraram duas vezes. Falaram sobre o nervosismo do mercado com a eleição e sobre a alta do dólar.
A primeira reunião ocorreu no Ministério da Fazenda, em julho, quando Ilan e o ministro Eduardo Guardia apresentaram a Guedes um panorama das contas públicas, ressaltando a dificuldade fiscal.
Quem acompanhou a conversa afirma que, preocupado com a volatilidade cambial, Ilan destacou a necessidade de as campanhas dos presidenciáveis acenarem para uma política de continuidade das reformas econômicas.
Uma segunda conversa de Ilan com Guedes ocorreu após a internação de Jair Bolsonaro.
Um observador diz que Guedes defendeu, nesta conversa, um BC independente. Procurados, os dois não quiseram comentar sobre os encontros.
Não é de hoje que o economista, cotado para ser o ministro da Economia de Bolsonaro, defende mandatos fixos de quatro anos para os dirigentes da autoridade monetária, não coincidentes com o do presidente da República.
Essa desvinculação de mandatos fez parte do projeto de autonomia do BC, que Ilan negociou neste ano com parlamentares. A discussão no Congresso acabou congelada na campanha. Apesar disso, Ilan disse a Guedes que, neste momento, não poderia se comprometer com candidato A ou B, pois isso poderia abalar a confiabilidade do BC.
A autoridade monetária é a responsável pelo cumprimento das metas de inflação e pelo regime de câmbio flutuante —pilares da política econômica em vigor no país há quase duas décadas.
Ao indicar que o BC ficará distante de interferências políticas, os candidatos à Presidência sinalizam a investidores do mercado financeiro e a empresários o comprometimento com a manutenção desse sistema. Por isso, todos os presidenciáveis tratam do assunto durante a eleição.
No caso específico de Ilan, sua gestão é bem avaliada por ter baixado a inflação de quase 11%, no início de 2016, para os atuais 4,19% (nos 12 meses encerrados em agosto).
Na semana passada, o petista Fernando Haddad fez acenos públicos à permanência de Ilan no BC. Os dois se encontraram duas vezes para falar de economia e do sistema bancário. Haddad busca um discurso mais pró mercado em um eventual segundo turno contra Bolsonaro.
Os assessores do petista acreditam que, ao demonstrar proximidade com nomes mais liberais, seria possível tomar votos do centro que flertam com Bolsonaro porque não querem a volta do "PT de esquerda".
Assessores do capitão reformado acham que ele pode ser prejudicado com um projeto "Haddad paz e amor". Defendem que Bolsonaro é o único que teria condições de bancar um BC independente com Ilan no comando —ponto pacífico entre ele e Paulo Guedes.
Para esses auxiliares, Ciro Gomes (PDT) não defende essa causa, e Marina Silva (Rede) recuou em relação à autonomia prometida na eleição de 2014.
Nem mesmo Geraldo Alckmin decidiu pisar tão fundo na ideia de deixar o BC mais independente —o tucano não considerou o assunto prioritário.