A minha psicóloga, a competente doutora Cristiana Renner, tem uma tia, Tia Márcia, que me acusa de falar sempre das mesmas pessoas aqui na minha coluna. Ela reclama de que eu abuso de minha admiração por Abilio Diniz. É verdade.
Tia Márcia reclama com toda a razão de que o tempo todo eu fico falando de Abilio e Jorge Paulo Lemann. Quando você escreve na Folha, você escuta esse tipo de comentário frequentemente. Além da competente Paula Cesarino Costa, o povo é seu ombudsman.
Pois bem, para que Tia Márcia compreendesse meu drama, eu pedi à própria Tia Márcia uma lista de dez brasileiros que estejam fazendo coisas inspiradoras neste momento caótico do Brasil. E que fossem nomes novos como ela pede, e não os Abilios e Jorge Paulos de sempre. A dificuldade que Tia Márcia terá eu explico neste artigo.
Não são poucos os brasileiros novos que neste momento estão fazendo coisas muito importantes. Eles existem, só que têm pouco espaço na mídia. Ou porque não são conhecidos ou porque não querem ser conhecidos. Ser conhecido no Brasil dá muito trabalho, já que o Brasil é muito impopular no Brasil.
Neste momento de catarse da nação, em que estão expostas as nossas vísceras, há uma compreensiva desconfiança e uma destrutiva intolerância no ar. É um momento em que, ao contrário do que sempre fomos, o Brasil não está gostando de gostar.
Por isso, mais do que nunca, a imprensa, e esta coluna é imprensa, deve dar espaço para gente que inspira. Como Eduardo Lyra, estagiário à Nelson Mandela, que lá na sua terra em Poá faz um trabalho incrível chamado Gerando Falcões, apoiado por Antonio Paulo Lemann (já que estou proibido de falar o nome do empresário).
Eduardo Lyra tira crianças e jovens das mãos da pobreza e do crime e as ensina a sonhar grande, a querer a Lua, a querer ser o próximo Elon Musk. Lá elas aprendem a declamar "Morte e Vida Severina" (eu vi), a tocar Leonard Cohen (eu escutei), a jogar tênis como Jorge Paulo (sorry) e a querer serem grandes como Atílio Diniz.
Ao longo do ano, Tia Márcia, vou procurar falar aqui na coluna de outros grandes brasileiros, como Laércio Consentino, da Totvs, Katia Almeida Braga, da Icatu, Guilherme Benchimol, da XP. Alguns deles vão odiar, possivelmente vão reclamar. Hoje os "haters" são implacáveis com o sucesso, e os "lovers" estão desconfiados de tudo.
Então, me perdoe, Eduardo Lyra, ao dizer que algum dia talvez você mereça o Prêmio Nobel da Paz por cuidar de 8.000 famílias e estar se preparando para cuidar de 18 mil famílias com a expansão de seu trabalho com a ideia genial de franquias sociais.
Ao lhe expor aqui com elogios, você pode ser perseguido com memes, "fake news". Você pode ser mais perseguido que seu pai no tempo em que ele assaltava bancos. Porque, em vez de falarem da sua trajetória incrível de garoto da favela, filho de pai bandido e mãe guerreira, vão buscar os pecadilhos que todos têm ou inventá-los.
Portanto, Tia Márcia, esse é meu drama quinzenal. Os conhecidos pagam o preço de serem conhecidos, e os desconhecidos lutam para serem reconhecidos e, quando finalmente são reconhecidos, descobrem o peso de serem conhecidos.
Mas, enquanto tia Márcia segue fazendo a difícil pesquisa de dez brasileiros (novos) que mereçam destaque, vou nas próximas colunas trazer à tona mais Eduardos Lyras porque eles existem, como expliquei para a sua sobrinha, doutora Cristiana Renner, uma psicóloga que tem tudo para figurar na minha futura lista de Eduardos Lyras. Mas que, ao ser sistematicamente citada, poderá ser condenada no Brasil à mais dura pena: o sucesso.
Perdoe-me Eduardo Lyra.