Eduardo Bresciani, O Globo
O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, obteve seu primeiro passaporte brasileiro na Polícia Federal do Rio de Janeiro em 31 de agosto de 1990. A informação consta de documento inédito obtido pelo GLOBO. Trata-se de cópia do formulário utilizado para a renovação da caderneta na embaixada brasileira em Praga, na República Tcheca, em 1996. Os documentos utilizados por Kim estão em nome de Josef Pwag.
A imagem do passaporte emitido em 1996 foi divulgada em fevereiro pela agência de notícias Reuters. Na ocasião, a agência registrava que tivera acesso apenas à cópia e não era capaz de discernir se era verdadeiro. No mês passado o Itamaraty informou ao GLOBO a autenticidade e esclareceu que a emissão teve por base passaporte que o norte-coreano já possuía e tinha sido emitido no Brasil. Até agora, não se sabia em que local do país Kim teria conseguido o primeiro documento.
A informação sobre o local de emissão da caderneta inicial consta em anotação feita no formulário de que o documento que está sendo substituído foi “expedido pela SR/DPF/RJ”. A sigla significa Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal do Rio de Janeiro. O documento emitido em agosto de 1990 teria ainda validade até agosto de 1996 e foi “devolvido ao titular para fins de comprovação de permanência no exterior”.
A renovação ocorreu em 26 de fevereiro de 1996. Na anotação da profissão de Kim consta “child”, que quer dizer criança em inglês. O documento aponta como endereço para comunicação uma rua na Zona 10 de Praga: Na Blanici 485. O local de nascimento informado é São Paulo e a data de nascimento 01/02/1983. Os nomes dos pais escolhidos foram “Ricardo” e “Marcela”.
O passaporte do atual ditador foi renovado no mesmo dia do de seu pai, antecessor no comando da Coreia do Norte. O então ditador Kim Jong-il utilizou o nome de Ijong Tchoi. No formulário, utilizou a palavra “business” para definir sua profissão, como se fosse um homem de negócios. O endereço informado foi o mesmo do filho.
No caso de Kim Jong-il, porém, não foi anotado onde teria sido emitido o primeiro passaporte no Brasil. Mas a data registrada para a emissão da primeira caderneta revela que o documento foi posterior ao do filho. O pai recebeu seu passaporte brasileiro em 4 de dezembro de 1990. Naquela época, ele ainda não tinha assumido o comando do país asiático. O local de nascimento informado foi Rio de Janeiro e a data 4 de abril de 1940. No caso dele, os nomes dos pais utilizados foram “Tchungun” e “Jonggum”. Os dois formulários foram obtidos pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação.
O Itamaraty ressalta que em 1996 bastava a apresentação de um passaporte anterior para conseguir a renovação da caderneta no exterior, regra que tinha sido fixada por decreto de 1992. Nenhum documento adicional era solicitado, diferente do que ocorre hoje.