sexta-feira, 4 de maio de 2018

Lava-Jato encontra originais de Di Cavalcanti e joias na cobertura do 'doleiro dos doleiros' no Leblon


Painel de Di Cavalcanti na sala de Dario - Reprodução


Marcella Ramos, Chico Otávio e Daniel Biasetto, O Globo



Embora a Polícia Federal ainda não tenha localizado o doleiro Dario Messer, os objetos acautelados em sua cobertura no Leblon dão um panorama de como é a vida de luxo do empresário. Foram encontradas pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) e policiais dezenas de obras de Di Cavalcanti, principal expoente do modernismo brasileiro. 

O pintor, inclusive, parecia ser próximo da família: em um dos quadros, consta uma dedicatória a Mordko Messer, pai do doleiro. A força-tarefa encontrou também centenas de joias, incluindo colares, braceletes, pingentes e anéis. Em meio ao luxo, até o lixo do empresário chama atenção: há uma caixa repleta de papéis triturados em seu escritório localizado de frente para as Ilhas Cagarras.

A coleção de pinturas é extensa. São, pelo menos, 12 quadros de Di Cavalcanti e Eugênio de Proença Sigaud cada, além de alguns trabalhos de José Pancetti, Lia Mittarakis e Enrico Bianco. A PF não fez perícia, mas o especialista Max Perlingeiro, contatado pelo GLOBO, afirma que todas parecem autênticas e valiosas, com exceção de uma.


— Autênticos e de muito boa qualidade. Com exceção de um retrato que não consigo julgar se é realmente do Di Cavalcanti por foto. No entanto, numa coleção dessa magnitude, fica a dúvida — disse o especialista. A obra sobre a qual ele tem suspeita é o retrato de uma mulher com camiseta azul.

Em um dos quadros, consta uma dedicatória de Cavalcanti para Mordko Messer, pai de Dario e considerado primeiro doleiro do Brasil. É possível ler "Ao senhor M. Messer, com carinho e admiração de E. Di Cavalcanti (1967)". Mordko tinha uma série de amizades importantes. Entre elas, o atual presidente do Paraguai, Horacio Cortes.

Retrato de Dario em quadro inspirado na obra de Van Gogh - Reprodução

Dentre a boa seleção das pinturas, um quadro de gosto duvidoso: um retrato de Dario Messer como se fosse o "auto-retrato" de Van Gogh. Ao que tudo indica, o doleiro é um amante das artes.

Dedicatória de Di Cavalcanti para o pai de Dario Messer - Reprodução

JOIAS E PAPEL TRITURADO
As joias aparecem em quantidade exorbitante. São vários estojos abarrotados de anéis, pulseias, colares, brincos e pingentes. Todos, aparentemente, de ouro e carregando etiquetas, como se fosse um mostruário.

Joias encontradas no apartamento de Dario Messer - Reprodução

Fora os artigos de luxo, a Polícia Federal também encontrou uma caixa cheia de papéis triturados, com aparência de terem passado por uma fragmentadora. O ato de triturar papel se assemelha ao "modus operandi" de outros acusados de corrupção, que fazem isso para destruir provas.

Em meio ao luxo, até o lixo chama atenção: papéis picados - Reprodução


Descrito como um dos cinco maiores "doleiros dos doleiros" do Brasil, Dario é o principal alvo da operação "Câmbio, Desligo" deflagrada na manhã desta quinta-feira. Foram expedidos 53 mandados de prisão de doleiros e operadores financeiros, 37 deles já foram cumpridos. Dario não foi encontrado. Segundo a Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ), esta é a maior operação em número de prisões já realizada pela Lava-Jato no Rio, e talvez a maior contra lavagem de dinheiro desde o escândalo do Banestado, no qual Messer também foi citado.

Desde o início dos anos 2000 até agora, o doleiro figurou como envolvido em diversas acusações de corrupção por lavagem de dinheiro, passando do Banestado, ao Mensalão, Lava-Jato e Swissleaks.

Retrato feito por Di Cavalcanti em 1965 - Reprodução