A crise nos transportes, com estradas bloqueadas e abastecimento comprometido, atingiu o Brasil quando a economia já havia perdido impulso e as projeções de crescimento eram jogadas para baixo. Enquanto os caminhoneiros protestavam e o governo buscava uma negociação, ficaram quase ignoradas as más notícias da nova sondagem setorial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a pesquisa, a atividade continuou em queda em abril, a ociosidade permaneceu elevada no parque produtivo, os empresários ficaram menos otimistas e as intenções de investimento mais uma vez arrefeceram. A paralisação do movimento rodoviário de cargas acuou um governo já em dificuldades para avançar no ajuste de suas contas, na preparação de um orçamento administrável para o próximo ano e na preservação, em 2018, de um crescimento maior que o do ano passado.
O dado mais positivo da sondagem – e um tanto surpreendente – é a persistência de algum otimismo entre os empresários. O indicador permaneceu acima de 50 e, portanto, da linha divisória entre as expectativas de melhora e de piora, na avaliação das perspectivas da demanda, do volume exportado e das compras de matérias-primas. Em todos esses casos, no entanto, o valor apurado em maio foi menor que o de abril. Só a expectativa em relação às contratações passou do território positivo (50,8) para o negativo (49,9 pontos).
Este detalhe é especialmente preocupante, porque o desemprego já havia voltado a aumentar no começo do ano, embora permanecendo pouco abaixo do estimado para o primeiro trimestre de 2017. Emprego fraco e inseguro afeta a disposição também dos consumidores empregados e com renda suficiente, neste momento, para compras maiores que as do ano anterior. Se o consumo fraquejar, a demanda de produtos industriais será freada, com prejuízo para a maior parte das atividades produtivas de bens e serviços. Alguma piora no mercado, nos próximos seis meses, já está nas avaliações dos empresários, porque o indicador de expectativa de demanda baixou de 59 pontos em março para 58,4 em abril e 56,3 em maio.
Essa revisão do cenário prospectivo combina perfeitamente com a terceira queda consecutiva da intenção de investimento. A variação de abril para maio foi pequena, de 52,9 pontos para 52,2. A extensão da queda fica mais sensível quando se nota o recuo de 1,4 ponto em relação a fevereiro.
Se a disposição de investir continuar contida, a economia será duplamente afetada. A evolução de médio e de longo prazos será prejudicada pela insuficiência, já muito grave, de capacidade produtiva. A atividade será afetada também no curto prazo, especialmente porque a compra de máquinas e equipamentos tem sido um dos motores da reativação econômica. O crescimento da produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) só tem sido superado, nos últimos 12 meses, pelo da produção de bens duráveis de consumo, especialmente de carros.
No item de maior destaque, o relatório da CNI mostrou um índice de produção abaixo da linha divisória de 50 pontos em abril – um sinal, portanto, de recuo. O indicador passou de 55,2 pontos em março (em território positivo) para 48,8 no mês seguinte. Esses números, válidos para a indústria geral, são os mesmos do setor de transformação. A indústria extrativa teve um desempenho melhor, com recuo de 53,4 para 50,5 pontos, mantendo-se, portanto, na área de crescimento. O uso da capacidade instalada, medido em porcentagem, permaneceu constante, mas muito baixo, em 66%. Os estoques efetivos continuaram ajustados, com o indicador passando de 50,6 em março para 50,4 pontos e abril.
As expectativas em relação à quantidade exportada permaneceram positivas, com recuo de 55,4 pontos para 54,2 entre as consultas de abril e maio. As vendas externas têm contribuído para a recuperação da indústria, especialmente, como é natural, daquelas empresas mais experientes em comércio exterior. Se o País fosse mais integrado nas cadeias globais, com mais indústrias exportadoras, a travessia da crise doméstica teria sido mais fácil.