sexta-feira, 4 de maio de 2018

Desemprego nos Estados Unidos: 3,9% - Criadas no mês passado 164 mil novas vagas


Candidatos a vagas em feira de empregos em Miami. Foto: Lynne Sladky/AP

Henrique Gomes Batista, O Globo


WASHINGTON - Donald Trump não demorou para festejar a nova taxa de desemprego nos Estados Unidos, de 3,9% em abril, o menor patamar em 17 anos. Em seu tuíte, o presidente americano comemorou que “rompemos a barreira” dos 4%”. E ainda escancarou que pretende usar politicamente o número: “enquanto isso, CAÇA ÀS BRUXAS!”, escreveu, referindo-se às diversas investigações que o ameaçam e tentando relacionar os dois assuntos. Mas a análise dos dados, indicam que apesar do feito poucas vezes repetido na história americana, há nuances que não são assim tão dignas de festa. E, por incrível que pareça, isso pode ser bom para o Brasil.

Foram criados no mês passado 164 mil novas vagas - um número de dar inveja no Brasil -, mas abaixo dos 192 mil esperadas pelos analistas de mercado. Assim, a queda na taxa de desemprego também foi obtida pois há menos pessoas buscando uma ocupação. Segundo os dados, 79,2% dos americanos entre 25 e 54 anos estavam no mercado de trabalho em abril, percentual inalterado em relação a março. Essa relação estava em 81,4% em dezembro de 2000, última vez que a taxa do desemprego estava abaixo dos 4%. Ou seja, significa que há 2,3 milhões de pessoas em idade de trabalho que não estão no mercado, se comparados com a época do último grande boom do emprego.


Analistas divergem sobre os motivos desta diferença. Alguns afirmam que os salários estão ainda relativamente baixos e desestimula a volta ao mercado laboral. Em abril, por exemplo, a média de incremento de salário foi de apenas 0,1%. Na comparação com 12 meses atrás, uma alta e 2,6% - acima da inflação anual de 2%, mas nada que represente uma explosão do custos de salários. O aumento da desigualdade nos EUA faz com que a maior parte das novas vagas sejam de baixa remuneração e sem grandes possibilidade de progressão, gerando outro problema. Outros especialistas relacionam questões sociais: com a forte crise de opióides, parcela significativa dos americanos está fora do jogo, por causa das drogas e violência.

Ou seja, o fato de existir ainda uma “reserva” de pessoas que poderiam voltar ao mercado de trabalho se os salários melhorassem, um ritmo mais lento na criação de novas vagas e a falta de pressão inflacionária imediata pode significar que o Fed (banco central americano), pode ser mais comedido em seu aumento de juros. Os números não mostram um descontrole iminente. Isso tende a aliviar um pouco a pressão sobre o real, reduzindo fontes de instabilidade e pressão por alta de preços no mercado interno brasileiro. No longo prazo, reabrem questões sobre a qualidade dos empregos nos EUA e o debate sobre as políticas tão restritivas à imigração, bandeira de Trump que encanta os conservadores.

Mas o número baixo de desempregados confirma, independente destas nuances, o vigor dos Estados Unidos. Após a crise global de 2008, o desemprego passou a barreira dos 10%. Em 2013 - há cinco anos, apenas - estava em 8%. Uma série de estímulos iniciados no governo de Barack Obama, mantidos e reforçados pela administração Trump, ajudam explicar este momento. Este feito não se repetiu com a mesma intensidade nos países europeus. Resta saber se os EUA vão caminhar para um crescimento econômico acima dos 3% como promete o republicano - mas que ainda não é visto no país - sem gerar desequilíbrios, de forma inclusiva, até mesmo para os que desistiram do trabalho ou vivem em empregos de meio período e se sujeitam a jornadas duplas ou triplas, tendo o Uber como alternativa de ganho de renda. Falta fazer este vigor se transformar, de fato, em um novo sonho americano.