sexta-feira, 29 de maio de 2015

‘Washington Post’ chama Eduardo Cunha de ‘Frank Underwood’ brasileiro

O Globo

Segundo reportagem, presidente da Câmara conseguiu balançar o frágil sistema de alianças do governo Dilma



O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha - Andre Coelho / Agência O Globo


“Um cristão evangélico que toca bateria e tem sido comparado a Frank Underwood, o ambicioso político de “House of Cards”, série do Netflix, vem abalando a política brasileira desde que foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, há quatro meses”. É assim que começa o perfil do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) publicado no site do jornal americano “The Washington Post”. De acordo com a reportagem, Cunha “não apenas balançou o governo de alianças da Presidente Dilma Rousseff, no qual seu partido é supostamente o aliado mais importante. Suas ações ameaçaram inviabilizar a coligação meses após o começo do segundo mandato da presidente, levando a uma série de revoltas que abriram feridas nas frágeis alianças”.

O jornal americano citou as votações dessa semana para mostrar como Cunha trabalha: “Uma comissão do congresso trabalhou por mais de três meses nas propostas que foram jogadas fora depois que o deputado convidou alguns líderes de partidos para almoçar em sua casa e foi decidido que as medidas seriam votadas diretamente no plenário cheio”.

José Álvaro Moisés, cientista político da Universidade de São Paulo (USP), descreveu para reportagem do site do Washington Post o momento da política brasileira como um divisor de águas.

— A oposição não está cumprindo bem o seu papel. Então esse espaço está sendo ocupado pelo PMDB — disse.

Segundo a publicação, o PMDB tem planos de desafiar o PT nas eleições presidenciais de 2018 e, com o Congresso agressivo que vem controlando com a presidência das duas casas, está mudando o equilíbrio de poder no Brasil.

— O legislativo também quer definir a agenda do país — disse Moisés ao jornal.

O jornal ressalta que críticos chamaram Cunha de perigoso, retratando ele como um operador político implacável e resiliente que dirige a Câmara dos Deputados de forma imperativa.

“O PMDB, que alguns dizem comandar o país por trás da cena há muito tempo, agora planeja ter um candidato próprio para a presidência pela primeira vez desde 1994 e passar para o centro do palco. O vice-presidente Michel Temer é um candidato em potencial, assim como Cunha apesar dele ter dito que prefere Eduardo Paes como candidato.”

O jornal lembra ainda que Cunha recebeu doações da Camargo Corrêa, uma das construtoras investigadas na Lava-Jato, na campanha de 2010, e que a senha do computador dele na Câmara foi usada para fazer um requerimento com pedido de informações a uma empresa suspeita de pagar propina a políticos com dinheiro desviado da Petrobras.

De acordo com o depoimento ao jornal de Rodrigo Motta, professor de história da UFMG e autor de livro sobre o PMDB, o presidente da Câmara não tem ideologia:

— Ele não tem nenhuma ideologia. A sua ideologia é a do poder — disse Motta à reportagem do Washington Post.

Concorrer contra o PT nas eleições de 2018, segundo o “Washington Post”, pode significar uma disputa com Lula, já que Dilma está no segundo mandato e não pode mais se reeleger. Wellington Moreira Franco, ex-senador pelo PMDB e Ministro da Aviação Civil, disse ao jornal americano que o partido vai lutar com uma plataforma econômica.

— A direita da esquerda e a esquerda da direita participam e compõe o PMDB... um partido de centro — disse Franco.

Ainda segundo o jornal, Cunha fez sucesso com o pensamento conservador brasileiro com posições para agradar multidões como a redução da maioridade penal para 16 e defendendo a criação de um “dia do orgulho hétero”.