Igor Gadelha e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo
O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, comunicou ao presidente Michel Temer que vai deixar o cargo para disputar a Presidência da República pelo PSC, segundo apurou o Estadão/Broadcast com integrantes da cúpula do partido. Ele deixará o posto até 7 de abril, prazo para que ministros e detentores de cargos públicos saiam do governo para disputar eleições.
À frente do banco que é a maior fonte de financiamento a investimentos no Brasil, Rabello de Castro tem usado a projeção do cargo para se tornar mais conhecido da população. Costuma dizer a interlocutores que foi obra do destino ele ter sido colocado no posto a pouco tempo das eleições e num momento em que o BNDES estancou o processo de redução nos desembolsos. Com carreira no mercado financeiro, ele tem apenas 1% das intenções de voto, segundo pesquisa do Datafolha.
A estratégia, no entanto, tem causado desconforto nos corredores do banco, conforme apurou a reportagem. Já houve reuniões de diretoria, pautadas por tomadas de decisão importantes para a instituição financeira, em que o presidente não apareceu. Por outro lado, Rabello de Castro tem participado de agendas em diversos Estados, como Ceará e Piauí, e conta com assessoria externa para estruturar sua campanha.
Pressão. As investidas do presidente do banco de fomento para se lançar candidato agravaram a irritação e ampliaram a pressão para substituí-lo. As articulações para acelerar sua saída, porém, foram abortadas por contada sinalização de Rabello de Castro de que vai deixar o cargo no início de abril.
A investigação da Polícia Federal sobre a atuação de sua empresa, a SR Ratings, no aval a operações fraudulentas realizadas com recursos do Postalis (fundo de pensão dos Correios), também fez com que integrantes do governo contrários à permanência de Rabello passassem a “deixar tudo fluir naturalmente”.
Mesmo antes de deixar a presidência do banco de fomento, Rabello de Castro intensificou os movimentos para articular sua candidatura. Na segunda-feira (26), por exemplo, viajou para Fortaleza e Teresina para “divulgar atuação do BNDES no Nordeste”.
Rabello de Castro deixará a presidência do BNDES menos de um ano após assumir o cargo. Ele foi nomeado em maio do ano passado, em substituição à economista Maria Silvia Bastos, que pediu demissão do comando do banco. Na época, era filiado ao Novo, partido que deixou para ingressar no PSC.
“O PSC de fato está animado com uma perspectiva que só acontecerá se e quando ocorrer. Estou trabalhando 101% na agenda do banco que é acelerar investimentos para o País”, afirmou Rabello. Segundo ele, o tema da reunião com Temer hoje será financiamento a pequenos municípios, inclusive para segurança pública. O BNDES informou que não comenta eventuais decisões de caráter pessoal de Rabello.