O Globo
NOVA YORK — Duas semanas após o massacre que deixou 17 pessoas mortas numa escola da Flórida, a maior rede varejista do mundo, o Walmart, decidiu elevar a idade mínima para a compra de armas e munições em suas lojas nos EUA e retirar de circulação quaisquer itens que se assemelhem a rifles. No mesmo dia, uma das maiores redes de lojas de material esportivo dos EUA, a Dick's Sporting Goods, também anunciou a elevação da idade mínima para compra e afirmou que não irá mais vender quaisquer fuzis de assalto.
"Levamos a sério nossa obrigação de sermos um vendedor responsável de armas de fogo, e vamos além da lei federal ao requerir que consumidores passem por uma checagem de antecedentes antes de comprar qualquer armamento", disse o Walmart em nota.
Apesar de não vender rifles de assalto desde 2015, o Walmart também anunciou que retirará de circulação quaisquer armas que lembrem este tipo de armamento, como brinquedos e réplicas.
O autor dos disparos, Nikolas Cruz, conseguiu comprar um fuzil AR-15 sem muita dificuldade, apesar de ter apenas 19 anos, o que reacendeu o debate sobre o acesso a armas nos EUA.
Já de acordo com a Dick's Sporting Goods, nenhuma pessoa com menos de 21 anos poderá comprar nenhum tipo de armamento, sendo que munições de alta capacidade também estão banidas das prateleiras.
A Dick’s Sporting Goods é uma das maiores varejistas de equipamentos esportivos dos EUA, com mais de 700 lojas em todo o país, além de ser proprietária de outras redes especializadas em gêneros específicos de esportes, como o golfe e atividades ao ar livre (caça, pesca, trilhas a pé etc). De acordo com o jornal americano "The New York Times", o CEO e filho do fundador, Edward Stack, afirmou que a decisão é uma resposta direta ao massacre.
— Quando vimos o que aconteceu em Parkland, ficamos perturbados e tristes. Nós amamos esses alunos e seus gritos de 'chega'. Vamos nos posicionar e afirmar às pessoas nossa visão para, com esperança, trazê-las para a discussão.
Stack espera que a discussão inclua políticos e possibilite uma "reforma com bom senso" na política de armas praticada no país. Ele deseja que maiores restrições sejam aplicadas na venda, como proibição da comercialização de rifles de assalto, o aumento para 21 anos da idade mínima necessária para comprar uma arma e maior análise de possíveis problemas psicológicos que tenham os compradores.
Ainda de acordo com o proprietário, a loja procurou em seus arquivos o nome de Nikolas Cruz pouco depois da identidade do jovem ter sido revelada e descobriu que tinha vendido uma arma para ele em novembro, ainda que não tenha sido o modelo usado no ataque.
Essa não será a primeira vez que a loja faz mudanças após um ataque a tiros. Depois do tiroteio na escola primária de Sandy Hook, a varejista decidiu interromper a venda de fuzis de assalto em suas unidades principais, mas esse tipo de armamento continuou a ser comercializado em sua rede destinada especificamente a esportes de caça e pesca, a Field & Stream. Dessa vez, no entanto, Stack garante que a mudança será definitiva, ainda que o proprietário afirme ser um apoiador da Segunda Emenda, que garante o direito ao porte de armas de fogo nos EUA, e que continuará a vender armamento para esportes e caça.
Na semana passada, outras empresas anunciaram o fim da parceria com o lobby armamentista. O serviço de aluguel de carros Hertz, a seguradora de vida MetLife e a Delta Air Lines, que recebiam dinheiro da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), resolveram não aceitar mais doações do grupo.