João Sorima Neto e Rennan Setti, O Globo
Não bastassem os problemas na cúpula da BRF, em que os fundos de pensão Petros e Previ se uniram a outros sócios para destituir o Conselho de Administração e o empresário Abilio Diniz de seu comando, a maior exportadora de frangos do mundo também enfrenta problemas no chão de fábrica. Sindicatos que representam os 110 mil trabalhadores da BRF reúnem-se nesta quarta-feira em São Paulo para discutir o impasse sobre a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) referente a 2017. A empresa, que registrou um prejuízo de R$ 1,1 bilhão no ano passado, decidiu não fazer o pagamento. Propôs, no lugar, um bônus de R$ 450 para cada funcionário.
Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), que convocou o encontro, em anos anteriores a PLR variou entre um e três salários. Mesmo em 2016, quando a BRF teve um prejuízo de R$ 372 milhões, a participação nos lucros foi paga, diz a CNTA. De acordo com a entidade, a dona das marcas Sadia e Perdigão alegou “falta de obrigação” e “prejuízos” ao comunicar a suspensão do PLR, gerando insatisfação nas fábricas.
— Cumprimos as metas estabelecidas, mas a empresa alegou que a participação só poderia ser paga sobre o lucro líquido, e não sobre as receitas, que totalizaram R$ 33,5 bilhões em 2017. Se não tem lucro, não tem participação, apesar do empenho dos funcionários em cumprir as metas? Entendemos que esta não é uma postura justa e ética — questiona Artur Bueno de Camargo, presidente da CNTA, que pede mais transparência nas regras de remuneração variável.
No encontro, os sindicatos que representam os funcionários da BRF também vão discutir a unificação das negociações de acordo coletivo em nível nacional. Hoje, a empresa faz negociações em cada estado onde mantém fábricas. Procurada, a BRF não quis falar sobre o assunto.
Saída de executivo agrava crise
O presidente da CNTA afirma que mudanças no Conselho de Administração e na gestão da empresa seriam vistas com bons olhos também pelos sindicatos.
— Depois do prejuízo de 2016, essa gestão já deveria ter sido mudada. Se não está dando certo, precisa trocar o comando — afirmou Camargo.
A renúncia do vice-presidente de operações, Helio Rubens dos Santos Junior, na segunda-feira, enfraqueceu ainda mais a atual diretoria, indicada por Abilio Diniz. Segundo uma fonte, o executivo era funcionário “da velha guarda da companhia”, vindo dos quadros da Sadia, ainda antes da fusão com a Perdigão, em 2009.
— Neste momento em que se busca um caminho para uma guinada na gestão, perder um profissional da turma tradicional, que entende bem o funcionamento desse mercado, deixa a empresa ainda mais desfalcada — diz a fonte.
Além dos fundos de pensão, outros sócios da BRF já se mostraram favoráveis a mudanças na cúpula da empresa. A Tarpon, gestora que detém 8,5% da BRF e é tida como a principal responsável pela influência de Abilio na companhia, deve adotar um discurso menos combativo que o do empresário. Segundo uma fonte próxima à Tarpon, a gestora deverá manter bom relacionamento com Abilio, mas se mostrará aberta a avaliar todas as propostas apresentadas pelos fundos de pensão. Procurada, a Tarpon ainda não se manifestou.