segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Monica Lewinsky reavalia relação com Bill Clinton: 'Abuso de poder grosseiro'


Affair. Foto do presidente dos Estados Unidos Bill Clinton ao lado de Monica Lewisky, ex-estagiária na Casa Branca com quem teve um relacionamento extraconjugal - Official White House photo 17/11/1195 / AP

AFP


WASHINGTON - A ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky afirmou que, ao reanalisar o caso que teve com o ex-presidente Bill Clinton pelas "novas lentes" do movimento #MeToo, concluiu que o mesmo foi um "grosseiro abuso de poder". Em texto publicado na última edição da revista Vanity Fair, Lewinsky, hoje com 44 anos, também relatou um recente encontro com Ken Starr, o promotor especial, cuja investigação revelou o relacionamento sexual com Clinton há quase 20 anos.

Monica Lewinsky disse que há vários anos foi diagnosticada com transtorno de estresse pós-traumático, "principalmente devido ao fato de ter sido demitida e banida publicamente".
No entanto, ela contou que tirou forças do movimento #MeToo, que revelou casos de abuso sexual de homens poderosos do mundo do entretenimento, da política e da mídia.


Em 2014, Monica Lewinsky considerou que relacionamento com Clinton foi consensual, mas depois passou a reconhecer caráter abusivo de poder do presidente - Reprodução/Vanity Fair/2014


Lewinsky afirmou que recentemente recebeu uma mensagem de "uma das mulheres corajosas que lideram o movimento #MeToo", dizendo: "Sinto muito, você estava tão sozinha".

"Essas palavras me tocaram", escreveu Lewinsky. "Que eu tenha cometido erros, nisso todos nós concordamos", continuou. "Mas nadar no mar da solidão é aterrorizante".

"Há ainda algumas pessoas que sentem que as experiências na Casa Branca não têm um lugar nesse movimento, pois o que ocorreu com Bill Clinton não foi agressão sexual, embora agora reconheçamos que constituía um abuso de poder grosseiro", disse.

Lewinsky lembrou como enfatizou em outro texto para a Vanity Fair, há quatro anos, que o caso com Clinton era um "relacionamento consensual".

Ela creditou a mudança de seu pensamento ao #MeToo e à "nova lente que proporcionou".

"Agora, aos 44 anos, estou começando (apenas começando) a considerar as implicações das diferenças de poder que eram tão grandes entre um presidente e uma estagiário da Casa Branca", afirmou. "Estou começando a considerar a noção de que, em tal circunstância, a ideia de consentimento pode ser discutível".

"Ele era meu chefe. Ele era o homem mais poderoso do planeta", escreveu Lewinsky. "Ele era 27 anos mais velho, com suficiente experiência de vida para saber mais".

Quanto ao seu encontro com o ex-promotor especial, o primeiro cara a cara, Lewinsky disse que ocorreu em dezembro de 2017 em um restaurante de Nova York.

Ela disse que Starr perguntou várias vezes se ela estava bem e "continuou tocando meu braço e cotovelo, o que me deixou desconfortável".

"Eu estava determinada, naquele lugar e momento, a lembrá-lo que, 20 anos antes, ele e sua equipe de promotores não haviam perseguido e aterrorizado apenas a mim, mas também minha família", declarou.

Lewinsky também contou ter dito a Starr que, enquanto desejava ter feito "escolhas diferentes", gostaria que seu escritório tivesse feito o mesmo.

Starr deu um "sorriso inescrutável", disse Lewinsky, e respondeu: "Eu sei. Foi infeliz".


Hillary Clinton, candidata à Presidência dos EUA em 2016, e seu marido, o ex-presidente Bill Clinton - Win McNamee / Reuters / 20-1-17