As decisões dos comitês de política monetária dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos reduziram a diferença entre as taxas de juros nos dois países a 3,75 pontos percentuais.
Trata-se de patamar inédito desde que o Banco Central do Brasilpassou a usar a taxa Selic como instrumento de política monetária, em 1999.
Essa diferença, que era de quase 40 pontos naquela época, oscilou durante esses 20 anos refletindo um certo descompasso entre o ritmo das duas maiores economias da América.
Apesar da coincidência de movimentos nesta quarta-feira (31), não há sinais de que as duas instituições iniciaram um ciclo de cortes de juros.
De acordo com André Perfeito, economista-chefe da Necton, o BC brasileiro promoveu um corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic e já falou em cortes adicionais.
O banco central norte-americano, por outro lado, promoveu uma redução de 0,25 ponto e não sinalizou que haverá novas reduções da taxa nos próximos meses.
Com isso, a diferença entre as taxas de cair ainda mais, retirando a atratividade do ganho com a diferença de juros nos dois países.
"Com um diferencial de juros tão baixo, a gente tem um desestímulo a operações de arbitragem entre as taxas de juros e ao fluxo de câmbio", afirma o economista.
"Esse mercado pode enfrentar alguma volatilidade até entender qual é plano do BC e qual o plano do Fed [Federal Reserve]."
Nos últimos dois anos, o diferencial de juros caiu cerca de 40%, enquanto o risco-país recuou cerca de 15%.
Marcos Ross, economista da XP Investimentos, afirma que o diferencial de juros está apertado, mas que existe a possibilidade de o Brasil voltar a crescer e os Estados Unidos desacelerarem mais.
"Há chances de isso acontecer com as reformas. O Brasil já está com um patamar de juros adequado para o investidor estrangeiro.
Para ele, importa mais a relação dívida/PIB do que a Selic para investir. O estrangeiro é o primeiro a sair e o último a entrar."