sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Ibovespa fechou em alta pelo quarto dia seguido acima dos 101 mil pontos; Real tem pior mês desde perda do grau de investimento

Ibovespa termina o dia aos 101.134,61 pontos, com ganho de 0,61%. Assim, terminou a semana em alta de 3,55% e o mês de agosto, com baixa de 0,67%

dólar fechou esta sexta-feira, 30, em queda, mas acumulou expressiva alta de 8,45% em agosto. Foi a maior valorização mensal desde setembro de 2015, quando a moeda americana avançou 9,09% no mês em que o Brasil perdeu o grau de investimento pelas agências de classificação de risco S&P Global RatingsMoody's. Nos últimos cinco dias, o dólar acumulou alta de 0,43%, marcando a sétima semana consecutiva de ganhos. No final do dia, a divisa terminou em baixa de 0,68%, cotada em R$ 4,1425.
No mercado de ações, o Ibovespa emplacou nesta sexta-feira sua quarta alta consecutiva e encerrou com relativa tranquilidade um mês marcado por turbulências e volatilidade. A esperança de uma amenização da guerra comercial entre Estados Unidos e China foi o fator externo que deu sustentação às ações nos últimos dias e, por aqui, o destaque da semana ficou com o desempenho melhor que o esperado da economia brasileira no segundo trimestre do ano. Em alta desde a abertura, o Ibovespa terminou o dia aos 101.134,61 pontos, com ganho de 0,61%. Assim, terminou a semana em alta de 3,55% e o mês de agosto, com baixa de 0,67%.

Dólar
O dólar terminou a sexta-feira cotado a R$ 4,14. Foto: Public Domain

Dólar

Nesta sexta-feira, a moeda americana perdeu força ante emergentes pares do Brasil, como México e África do Sul, o que contribuiu para a queda aqui. Fatores técnicos também influenciaram a baixa, principalmente a ação mais forte dos vendidos (agentes que apostam na queda da moeda) na disputa pela definição da taxa Ptax de agosto, referencial usado em contratos de câmbio e balanços de empresas.
A moeda americana chegou a bater em R$ 4,20 na última quarta-feira, mas com atuação surpresa do Banco Central a valorização perdeu força. Na segunda-feira, o BC começa nova rodada de atuações programadas, que devem somar US$ 11 bilhões ao longo do mês. Serão vendidos dólares das reservas internacionais em conjunto com operações de swap reverso (uma espécie de compra de dólares no mercado futuro).
"Leilões de dólares programados não surtem efeito", afirma o chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. Para afetar as cotações, a venda precisa ser feita de surpresa, como ocorreu na quarta-feira, ressalta ele, destacando que a operação sinalizou para o mercado que o BC está atento às subidas maiores da moeda americana. Naquele dia, o dólar beirava os R$ 4,20, mas rapidamente caiu para a casa dos R$ 4,13. 
Para o dólar cair abaixo do nível atual, Velloni observa que é preciso um sinal mais claro de avanço das negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China. Hoje, o próprio presidente americano, Donald Trump, falou da valorização do dólar na economia mundial e reclamou que o euro está caindo "loucamente" contra a divisa. Novamente Trump pediu ação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para cortar juros, o que ajudaria a desvalorizar o dólar.
O Bank of America Merrill Lynch afirma seguir "otimista" com o real, por conta do avanço das reformas, mas vê a moeda acima de R$ 4,00 até o final do ano. Nas previsões do BofA, com o avanço da agenda de reformas e a redução dos prêmios de risco de ativos do Brasil, o dólar cairia para R$ 3,90 no começo de 2020 e para R$ 3,80 no segundo trimestre. Um dos fatores que podem impedir um desempenho melhor do real é a tensão comercial entre China e EUA, que tem deixado os estrategistas do banco americano "cautelosos" com moedas de emergentes em geral.

Bolsa

A combinação entre o corte de 0,5 ponto porcentual na taxa Selic e a leve aceleração do Produto Interno Bruto (PIB) deram vantagem às ações de consumo e varejo em agosto, que tiveram desempenho essencialmente positivo. Já o estresse com a tensão comercial no exterior impôs perdas aos papéis de empresas de commodities no acumulado do mês.
"Agosto foi um mês marcado pelo riscos de recessão global, com os efeitos do corte de juros nos Estados Unidos e sinalização de estímulos feita pelo BCE. Tivemos a crise da Argentina, um importante parceiro comercial brasileiro, que pode prejudicar nosso setor automobilístico. Foi um período muito tumultuado, mas a bolsa até que terminou bem, com uma queda pequena", disse Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.
Segundo Galdi, para setembro as atenções continuarão concentradas nos mesmos temas, mas há uma chance de melhora nos ânimos. "Tudo depende dos tweets do presidente Trump, mas ele já está em campanha eleitoral e pode diminuir o tom. Por aqui, a conclusão da reforma da Previdência e início da tramitação da tributária podem ser os pontos positivos em setembro", afirmou o analista. 

Em meio à forte aversão ao risco que tomou os mercados globais, as últimas quatro semanas foram de expressiva saída de recursos externos do mercado brasileiro. Até a última quarta-feira (28), o saldo dos investimentos estrangeiros na B3 indicava saída de R$ 12,099 bilhões, mais da metade (53%) de tudo o que saiu da Bolsa no acumulado do ano (R$ 22,533 bilhões).

Altamiro Silva Junior e Paula Dias, O Estado de S.Paulo