A Lava Jato tem sido eficaz em revelar a lama por baixo de nossas instituições.
Mas a história da operação também tem doses elevadas de dramas pessoais e familiares.
Um deles — talvez o mais agudo — acaba de estourar e já realimenta a operação.
No epicentro desse novo capítulo, estão Marcelo Odebrecht, uma vingança familiar e novas revelações para a Lava Jato que podem respingar no Judiciário:
A reportagem de Fabio Serapião revela como o Odebrecht municiou a Lava Jato para facilitar a prisão do próprio cunhado, que de braço-direito tornou-se seu arqui-inimigo.
Graças à cooperação de Odebrecht, o cunhado está preso.
Com a ajuda de Odebrecht, a Lava Jato pode chegar a segredos que os delatores da Odebrecht nunca contaram — inclusive sobre o Judiciário.
Leia um trecho da alentada reportagem:
No auge das negociações do que à época era o maior acordo de colaboração com a Justiça já assinado no mundo, em outubro de 2016, o empresário Emílio Odebrecht alugou uma sala na cobertura do hotel Windsor, no Setor Hoteleiro Sul de Brasília, onde montou um escritório de crise para gerenciar a assinatura das 77 delações de seus executivos e o acordo de leniência de suas empresas. Enquanto analisava as propostas de penas e os benefícios oferecidos pela Procuradoria-Geral da República e definia os crimes a serem delatados, o patriarca da família dona da maior construtora da América Latina comia sua salada caprese ao lado da filha, Mônica, do genro Maurício Ferro, vice-presidente jurídico do grupo, e de Newton Souza, então presidente da Odebrecht. A 1.400 quilômetros da sala bem arrumada e com buffet à vontade a partir da qual o patriarca guiava o acordo, Marcelo Odebecht, o herdeiro de Emílio, amargava havia mais de um de ano a prisão na carceragem da Polícia Federal de Curitiba. Comendo a quentinha servida pela PF e dividindo cela com outros criminosos, sem nenhuma mordomia como as de seus parentes bem acomodados no hotel da capital federal, Marcelo alimentava um ódio crescente por seus familiares. O motivo, dizem pessoas próximas a ele, era o sentimento de que havia sido abandonado. Afinal, era o único integrante da cúpula do conglomerado empresarial a estar preso e a assumir a maioria dos crimes cometidos pelo grupo criado por seu avô, Norberto Odebrecht…A situação piorou ainda mais quando Marcelo deixou a carceragem da PF e foi para a prisão domiciliar. Foi quando ele teve acesso ao seu antigo computador e passou a pesquisar em seu banco de dados que guardava mais de 1 milhão de mensagens trocadas com outros executivos do grupo. Parte delas foi utilizada pelos investigadores para mostrar a participação de Ferro, o genro de Marcelo que virou seu inimigo figadal, em crimes que ainda não tinham sido devidamente mapeados…
A reação em Brasília à prisão do cunhado de Odebrecht foi imediata.
Confira outro trecho da reportagem:
…logo após a prisão de Maurício Ferro, houve um certo frisson entre ministros de tribunais superiores conhecidos por apoiar as investigações da Lava Jato. Alguns apostavam que Ferro logo seria beneficiado por alguma liminar, dada a sua proximidade histórica com gente importante das altas cortes. Do outro lado, o clima era de preocupação, justamente com a possibilidade de, a partir da detenção do genro de Marcelo Odebrecht, a Lava Jato acabar chegando às relações, digamos, heterodoxas da empreiteira com gabinetes de tribunais.
A reportagem tem informações e documentos inéditos…
…e mostra como a Lava Jato ainda pode avançar muito.