Duas gigantes dos alimentos, BRF e Marfrig, estão negociando uma fusão. Fato relevante divulgado pela dona das marcas Sadia e Perdigão nesta quinta-feira, 30, prevê 90 dias de exclusividade com a Marfrig, prorrogáveis por mais um mês. A BRF, que enfrenta dificuldades financeiras e de operação neste momento, espera que a combinação reduza a exposição a riscos setoriais e gere ganhos de sinergia.
As duas empresas começaram a conversas nos últimos meses, apurou o Estado com fontes a par do assunto. Marfrig e BRF já têm negócios em comum. A BRF vendeu no ano passado a Quickfood, da Argentina, para o grupo comandado por Marcos Molina, e repassou à gigante das carnes a fábrica de indústrias processados no Mato Grosso.
De acordo com o fato relevante, os estudos da fusão devem resultar na atribuição de 84,98% da participação acionária aos acionistas de BRF e 15,02% aos acionistas de Marfrig. A gigante dos alimentos esclareceu "que as partes conduzirão, durante o prazo de exclusividade, mútuo processo de diligência dos seus negócios, cujo resultado, a critério conjunto das companhias, poderá ensejar ajustes nos termos da transação".
As companhias informaram que esperam "sinergias operacionais e financeiras em virtude do equilíbrio e complementariedade de produtos, serviços e diversificação geográfica com relevância no Brasil, Estados Unidos, América Latina, Oriente Médio e Ásia".
Os estudos para a combinação dos negócios serão feitos nos próximos 90 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. As duas empresas, juntas, terão receita de R$ 80 bilhões e se tornariam a 4ª maior empresa de proteínas animal do mundo, atrás da JBS, dos irmãos Batista; da americana Tyson Foods, e a chinesa Smithfield.
Justificativas para o negócio
Segundo um analista do setor, que falou ao Estado sob condição de anonimato, o mercado recebeu o anúncio como uma surpresa. Ele afirmou que cerca de 80% do negócio da Marfrig está nos EUA e que, por isso, não existiria tantas sinergias a serem captadas com a união. Segundo outra fonte, a BRF, que vinha num movimento de redução de dívida e pode ter suas receitas elevadas por conta da gripe suína na China, corre o risco de ver esse benefício diluído ao se unir à Marfrig, que trabalha majoritariamente com carne bovina.
Uma das fontes definiu o anúncio como "curioso", dado o momento de negócios das duas empresas. A BRF, que enfrenta problemas para equalizar o seu balanço, acabou de ter um "respiro" com a gripe suína na China, o que resultou em uma forte alta de suas ações nos últimos meses. Já a Marfrig, controlada pela família Molina, fez uma série de venda de ativos e viveria um momento mais tranquilo do que há alguns anos, quando chegou a correr o risco de falir. "A Marfrig divulgou um guidance (previsão) agressivo para o ano de 2019, mas não deu tempo ao mercado para captar os benefícios dessa expectativa", disse.
Cristiane Barbieri e Mônica Scaramuzzo, O Estado de S. Paulo