O Brasil continuará apoiando investimentos em fontes renováveis de energia, mas ainda não há planos no país para se abandonar a geração termelétrica a carvão, disse nesta terça-feira (28) o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Embora países como Alemanha e França venham anunciando planos de fechar usinas a carvão no médio e longo prazo, o Brasil espera que a fonte possa ao menos manter a estabilidade de sua participação na matriz na próxima década, acrescentou Albuquerque.
"Nós não podemos descartar nenhuma das fontes", disse o ministro a jornalistas, destacando que o carvão é importante para a economia da região Sul do país e por isso projetos da fonte deverão continuar aptos a participar dos próximos leilões do governo para contratação de novos empreendimentos.
"Hoje o carvão é cerca de 1,9% da matriz (elétrica do Brasil) e deverá permanecer nesse patamar pelos próximos 10 anos. Vai ter espaço para o carvão, para ele manter a base dele", afirmou, nos bastidores de um evento do setor elétrico em São Paulo.
Após essa década, no entanto, o futuro da fonte dependerá da tecnologia, disse o ministro, ressaltando no entanto que acredita em um futuro mais limpo para essas usinas.
"Tive oportunidade na última sexta-feira de ir a Criciúma visitar um centro de pesquisa (em carvão)... fui conhecer lá uma planta justamente de absorção de CO2. Isso mostra que ainda é uma atividade econômica sustentável, que está se tornando mais limpa", comentou Albuquerque.
O governo da França tem planos de fechar todas as térmicas que usam o combustível fóssil no país até 2022, enquanto o Reino Unido, onde foi instalada a primeira usina elétrica a carvão do mundo, nos anos 1880, pretende fazer o mesmo até 2025. A Alemanha trabalha com uma meta de prazo mais longo, com expectativa de acabar com as usinas a carvão até 2038.
EÓLICAS E PEQUENAS HIDRELÉTRICAS
Apesar da fala sobre carvão, o ministro de Minas e Energia destacou o forte crescimento da geração com fontes renováveis no Brasil, puxado por uma acelerada expansão das eólicas a partir de 2009, quando foi realizado um primeiro leilão do governo federal voltado exclusivamente a usinas da fonte.
Nesse período, segundo Albuquerque, a indústria recebeu investimentos de cerca de 145 bilhões de reais, o que levou as usinas eólicas a uma capacidade total de cerca de 15 gigawatts no Brasil, o equivalente a 9% do parque gerador do país.
"O Brasil foi o quinto país do mundo que mais instalou eólicas em 2018, e a indústria eólica desempenha um papel importante na economia do país", afirmou.
A indústria eólica gera atualmente 190 mil postos de trabalho no país, segundo dado citado pelo ministro, com diversas fabricantes do setor tendo instalado unidades locais, incluindo as gigantes Vestas, GE, Siemens Gamesa e Nordex-Acciona.
Essas fábricas no Brasil montam turbinas eólicas com cerca de 80% de conteúdo local, destacou Albuquerque.
O ministro disse também que o presidente Jair Bolsonaro tem "um carinho especial" pelas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas com até 30 megawatts em capacidade.
Atualmente, existem cerca de 526 projetos de PCHs já avaliados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que somariam uma capacidade instalada de 7.800 megawatts, e Bolsonaro quer tirar esse potencial do papel, segundo Albuquerque.
"Para viabilizar a implantação desses empreendimentos, serão realizadas pelo ministério ações junto aos órgãos ambientais, bem como junto ao Ministério Público, visando demonstrar o benefício que a implantação destes trará aos Estados", disse.
De acordo com ele, esses esforços serão realizados a partir de junho, com foco nos Estados de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.