A fabricante de aviões Embraer e a indústria de motores WEG anunciaram nesta quarta-feira uma parceria para desenvolvimento de aeronaves com motores elétricos. O objetivo do acordo, por ora, é desenvolver estudos sobre essa tecnologia, ainda incipiente, mas que deve crescer no futuro na esteira da popularização dos carros elétricos.
O desenvolvimento dessa tecnologia deve ser feito tanto nas fábricas da Embraer, sediada em São José dos Campos (SP), quanto nas da WEG, em Jaraguá do Sul (SC).
A parceria será com a divisão militar e agrícola da Embraer, que não está envolvida na fusão com a americana Boeing.
A primeira aeronave da Embraer a receber motor elétrico será a Ipanema, avião muito popular no agronegócio por ser usado para espalhar defensivos agrícolas em grandes extensões.
— O objetivo é colocar o primeiro Ipanema com motor elétrico nos ares já em 2020 — diz Manfred Peter Johann, Diretor Superintendente da WEG.
O anúncio desta quarta-feira é visto pela Embraer como o primeiro passo de uma "disrupção" no modelo de negócios da fabricante, segundo Daniel Mockzydlower, vice-presidente de engenharia e tecnologia da empresa. A indústria da aviação civil da Europa se comprometeu a reduzir, até 2050, a emissão de gases poluentes ao patamar de 2010.
Por causa da expansão da aviação civil, dificilmente esse objetivo vai ser atingido do jeito como a indústria vem fazendo hoje — mudando a aerodinâmica dos aviões para eles consumirem menos querosene. Por isso, o executivo vê um campo promissor para as empresas que saiam na frente nas pesquisas de combustíveis alternativos.
— Quem dominar a tecnologia de motores elétricos vai sair na frente na corrida pela dominância da aviação Civil no futuro — diz Mockzydlower. Para o executivo, contudo, viajar num avião comercial movido a eletricidade ainda é algo que deve demorar, pelo menos, mais 15 anos.
— Por causa dos protocolos de segurança que a aviação civil precisa seguir, uma substituição completa dos combustíveis atuais por novas fontes deve demorar mais na aviação do que na indústria automobilística — diz o executivo.
Tecnologia incipiente
As duas companhias não divulgaram o valor do investimento financeiro previsto no projeto. No caso da WEG, por ora só haverá gasto com horas de engenheiros da empresa deslocados ao projeto. Mas, no futuro, o projeto de uma fábrica das duas empresas para desenvolver esses motores não está descartado.
O estágio de desenvolvimento de motores elétricos para aviação ainda é incipiente como em carros, dizem especialistas. Ao que tudo indica, essa tecnologia deve decolar no futuro.
Em 2018, o governo do Reino Unido, um dos acionistas da gigante Airbus, anunciou investimento de 255 milhões de libras em pesquisas para um modelo de aeronave leve, de dois lugares, movido a combustível híbrido — em parte elétrico, em parte com combustão a querosene. Os testes devem começar ainda este ano.
Por trás da corrida da Airbus pelo motor elétrico estão planos ambiciosos da União Europeia de redução da maioria das emissões de dióxido de carbono da aviação comercial até 2050.
Até lá, na visão de Thiago Nykiel, sócio da consultoria Infraway, muito dinheiro vai ter que ser investido em pesquisa para os motores elétricos virarem realidade na aviação comercial.
— Os carros usam muito menos energia para propulsão e mesmo assim está demorando a tecnologia virar em massa, vide o caso da Tesla Motors que tem tido dificuldade em elevar a produção de carros elétricos. As aeronaves gastam muito mais energia e precisam de muito mais potência para voar e, por isso, vai demorar um pouco para tornar viável essa tecnologia — disse Nykiel.
Para David Goldberg, da consultoria Terrafirma, os motores elétricos têm um longo caminho até chegar à segurança necessária para uso na aviação comercial de grande porte. Para o especialista, faltam evidências de que a potência dos motores a combustão podem de fato ser alcançada pelos elétricos.
Ainda assim, os estudos no tema devem crescer nos próximos anos diante do alto custos do querosene para companhias aéreas — a matéria-prima representa fatia importante das despesas fixas de uma aérea e estão suscetíveis ao sobe e desce das cotações deste insumo no mercado internacional.
— É muito ineficiente ficar voando com dezenas de toneladas de combustível. Por isso os estudos vão na linha dos motores elétricos — explicou Goldberg.
Leo Branco, O Globo