sexta-feira, 31 de maio de 2019

Entre risos e lágrimas

Nunca é demais reafirmar que o papel incontornável da imprensa sempre será fiscalizar o poder. Não se confunda, porém, “fiscalizar” com “deixar de ouvir” — ou “criticar” com “torcer contra”. Historicamente, VEJA mantém essa posição. Nascida no governo militar, com números recolhidos em banca e sob censura entre 1968 e 1976, a revista abriu as páginas da edição de 1º de agosto de 1979 para a primeira entrevista concedida a jornalistas brasileiros por um presidente-general, João Baptista Figueiredo, desde o golpe de 1964. A Carta ao Leitor daquela edição era assertiva: “É uma boa coisa que o presidente da República fale à imprensa — ponto. (…) Todas as vezes que o presidente falou ganharam a imprensa e o público”.
Depois de Figueiredo, já na chamada era da redemocratização, VEJA entrevistou com exclusividade todos os ocupantes do cargo máximo do país: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Alguns, mais de uma vez. Em várias ocasiões, a entrevista foi o tema de capa de VEJA — como ocorre no presente número, que traz uma conversa exclusiva com Jair Messias Bolsonaro, o 38º presidente do Brasil.
A entrevista talvez seja o mais nobre dos gêneros jornalísticos. Feita com esmero, é capaz de revelar o entrevistado para além do cargo que ocupa: um FHC encarnando sua vocação natural de professor; Lula emocionado ao lembrar-se da mãe e da infância pobre; Dilma confiante em demasia, embora estivesse numa semana de conflito com sua base de sustentação no Congresso (cujos desdobramentos, ao longo dos anos, dariam no que deu).
A relação conflituosa com o Parlamento também foi, aliás, um dos motes da entrevista de Bolsonaro, concedida no Palácio do Planalto, na quarta (29), ao diretor de redação Mauricio Lima e ao redator-chefe Policarpo Junior. Nela, Jair Bolsonaro não se esquivou de nenhum tema. Falou de seus erros no governo, da agenda pós-reforma da Previdência, de Lula, de Olavo de Carvalho, de sua relação com Fabrício Queiroz, ex-assessor de seu filho Flávio, e de planos futuros, como a privatização dos Correios.
Fiel ao seu estilo mais emotivo, o presidente alternou gargalhadas (basicamente ao comentar sobre futebol) e lágrimas. Ao relembrar o episódio da facada, não conseguiu conter o choro. Com voz embargada, interrompeu a entrevista por alguns segundos e falou de seu medo da morte. No total, foram quase duas horas de conversa — e os melhores momentos podem ser conferidos na edição de VEJA que circula a partir desta sexta-feira (31). De sua leitura, emerge um Bolsonaro franco, simples, que admite equívocos, mas irascível ao se referir à esquerda.

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