sexta-feira, 1 de junho de 2018

Sem Pedro Parente, ações da Petrobras caem quase 15%

Ana Paula Ribeiro, O Globo


renúncia do presidente da PetrobrasPedro Parente, provocou uma onda de vendas das ações da estatal e levou a B3 a suspender os negócios com os papéis. Na retomada, as ações afundaram e terminaram o pregão com queda de quase 15%, comportamento similar ao registrado em Nova York. A pressão sobre os papéis da petroleira também afetou o Ibovespa, principal índice local. Após subir mais de 1,5% na abertura dos negócios, o indicador chegou a ir para o terreno negativo, mas se recuperou e fechou em alta de 0,63%, aos 77.239 pontos. Já o dólar comercial terminou o pregão em alta de 0,82% ante o real, cotado a R$ 3,768 - na semana, acumula ganhos de 2,7%.


A Bolsa iniciou os negócios em alta, acompanhando o bom humor do mercado externo. No entanto, às 11h20, quando a Petrobras comunicou a decisão de Parente à Comissão de Valores Mobiliário (CVM), os papéis começaram a cair imediatamente e causaram apreensão entre os invesgtidores. “A Petrobras informa que o senhor Pedro Parente pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do dia de hoje.”

A notícia inesperada e a repercussão na Bolsa fez com que a B3 determinasse a suspensão dos negócios com as ações da Petrobras, o que durou cerca de 1 hora. Essa parada ocorre toda vez que algum acontecimento gera um forte movimento sobre um determinado papel. Após a paralisação, é realizado um leilão para que a negociação seja reiniciada. Nesse retomada, a queda chegou a superar os 20%.


As preferenciais (PNs, sem direito a voto) fecharam com queda de 14,85%, cotadas a R$ 16,16. Antes do anúncio, subiam mais de 3%. Já no caso das ordinárias (ONs, com direito a voto), a desavalorização foi de 14,91%, a R$ 18,88, sendo que antes subiam quase 3%. 

Não tem circuit braker (paralisação) quando há uma queda forte em um determinado papel.

Os recibos de ações negociados na Bolsa americana (ADRs, na sigla em inglês) também caem forte. O tombo era de 14,59%, para US$ 10,13.

Fabio Macedo, gerente comercial da Easynvest, explica que essa forte queda reflete a incerteza em relação á administração da estatal.

- A queda é decorrente dessa incerteza porque não se sabe qual gestão será adotada daqui para frente. O Parente tinha uma postura que agradava aos agentes do mercado financeiro devido à política de preços. Agora não se sabe o que vai acontecer e, com o temor de maior intervenção do governo, os papeís acabam derretendo - explicou.

A preocupação dos investidores é com quem irá assumir a estatal. A reunião do Conselho de Administração da Petrobras acontece no final da tarde desta sexta-feira. Na avaliação de Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor, o principal temor é de uma ingerência maior do governo sobre a estratégia da estatal.

- A expectativa é do que vai acontecer com a governança da Petrobras e se vai entrar alguém que irá mexer com a atual política de preços. Há um medo de que a empresa comece a sofrer interferência política como foi no passado - disse.

BRF SOBE MAIS DE 9%

Os papéis da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, também entraram em leilão na parte da manhã e fecharam em alta de 9,19%, a R$ 23,39. O agora ex-presidente da Petrobras é presidente do Conselho de Administração da BRF. O cargo de diretor-presidente da BRF está sendo ocupado de forma interina pelo diretor financeiro, Lorival Nogueira Luz.

A aversão ao risco com a saída de Parente foi geral. O risco país do Brasil, medido pelos CDSs (credit default swaps, que funcionam como uma espécie de seguro para o investidor que compra papeís do país) sobe mais de 4,5%, para 236 pontos.

Apesar do forte tombo da Petrobras, a Bolsa conseguiu se manter em terreno positivo.

- A Bolsa se recuperou com o fim da greve dos caminhoneiros, com os investidores antecipando um pouco da melhora economia. Além disso, o mercado externo operou com ganhos, o que também ajuda - diz Luiz Roberto Monteiro, operador da Renascença Corretora.

As ações da Vale subiram 4,20%, beneficiada pelos números positivos da economia chinesa durante o feriado. Os bancos, de maior peso na composição do índice, também tiveram alta. As preferenciais do Itaú Unibanco e do Bradesco subiram, respectivamente, 2,25% e 2,43%. Os papéis do Banco do Brasil subiram 0,95%.

No exterior, o “dollar index”, que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, operava em alta de 0,23% próximo ao horário de encerramento dos negócios no Brasil. O Dow Jones fechou em alta de 0,90% e o S&P 500 avançou 1,07%.