BOGOTÁ — Com mais de 99% das urnas apuradas na Colômbia, o candidato de direita Iván Duque — discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe — é o grande vencedor do segundo turno, com 53% dos votos, confirmando as pesquisas que lhe mostravam como favorito. Seu adversário, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro, ficou com 41% dos votos, o equivalente a mais de 8 milhões, e deve ser agora a principal voz da oposição. Os brancos foram de pouco mais de 4%, mas a abstenção ultrapassou a do primeiro turno, quando chegou a 46%. Mesmo assim, segundo o registrador nacional (responsável pela organização das eleições) Juan Carlos Galindo, trata-se de uma “participação histórica”, de 52% dos eleitores, em um país onde o voto não é obrigatório.
Com 41 anos, o afilhado político do polêmico ex-presidente se torna assim o mandatário mais jovem eleito na Colômbia desde 1872.
Com pouca experiência política, Duque chegou ao Parlamento por uma lista fechada liderada por Uribe e, embora tenha se destacado no Senado, analistas dão o mérito da vitória ao uribismo.
—Tudo foi alavancado pelo capital político que o ex-presidente Uribe tem — garantiu Fabián Acuña, cientista político da Universidade Javeriana.
Seu opositor, Petro, de 58 anos, é um ex-guerrilheiro do M-19, já dissolvido, que defende os acordos de paz e prometia romper o histórico controle da direita no país. Agora, graças a uma recente mudança da Constituição, ele tem garantida uma cadeira no Senado e deve se tornar a voz da oposição ao governo de Duque.
— Se Petro aceitar esse cargo, se converterá no principal opositor ao governo. Com mais de 8 milhões de votos, ele se articula como uma oposição de centro-esquerda forte — explicou ao GLOBO Borja Paladini, representante do Instituto Kroc para Estudos Internacionais da Paz na Colômbia.
Durante a campanha, Duque mostrou-se contrário ao acordo alcançado com as Farc, mas diminuiu o tom ao longo dos meses e, na reta final, prometeu não reverter o pacto. Petro, por sua vez, apresentou uma série de reformas destinadas a “aprofundar a paz”. Suas propostas de tributação de latifúndios improdutivos, migração para uma economia menos dependente do petróleo e do carvão, empoderamento dos camponeses e críticas às políticas antidrogas atuais preocupavam as elites.
— Duque começou dizendo que iria destruir o acordo; depois prometeu reformas estruturais e, por último, afirmou que iria fazer ajustes e um diálogo nacional. Provavelmente haverá ajustes, mas a melhor forma de avançar é alcançar de fato um acordo inclusivo, com setores da centro-esquerda e inclusive com ex-guerrilheiros — acredita Paladini. — Uribe é uma força muito grande para explicar sua vitória, mas Duque é um lider jovem, com formação internacional, que deve deixar sua própria marca.
O atual presidente Juan Manuel Santos — que deixará o poder em agosto — evitou se posicionar ao votar durante a manhã na Praça de Bolívar, em Bogotá. No Twitter, horas mais tarde, disse ter telefonado para felicitar Iván Duque e desejar-lhe “a melhor das sortes”.
“Ofereci toda a colaboração do governo para fazer uma transição ordenada e tranquila”.
Mais cedo, o Nobel da Paz de 2016 — laureado graças ao acordo com a ex-guerrilha — destacou as “garantias” de segurança que os eleitores tiveram, em um país onde a violência afetou por décadas as eleições.
— São eleições transcendentais.
Pouco depois do anúncio, Rodrigo Londoño, um dos líderes das Farc, conhecido como Timochenko, também celebrou as “eleições mais tranquilas das últimas décadas” . “O processo de paz dá frutos. É momento da grandeza, da reconciliação, de respeitarmos a decisão das maiorias e de felicitar o novo presidente. Agora vamos trabalhar, os caminhos da esperança estão abertos”, escreveu no Twitter o ex-guerrilheiro, que chegou a se candidatar à Presidência.
Marina Gonçalves, O Globo