Júnia Gama e Maria Lima - O Globo
Presidente do PSDB diz que disposição é fazer perguntas técnicas sobre crimes que a presidente afastada cometeu
Apesar de terem definido que o tom das perguntas na sessão em que a presidente afastada Dilma Rousseff deporá no Senado, nesta segunda-feira, será respeitoso, os senadores da base aliada a Michel Temer afirmam que, caso a petista parta para o ataque, haverá resposta.
— Nossa disposição é de fazer perguntas duras e técnicas sobre os crimes que a presidente afastada cometeu, mas caberá a ela dar o tom. Se o tom for de provocação, responderemos à altura — disse o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), após reunião dos líderes da base aliada ao governo Temer.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) também não pretende ficar calado caso haja provocação. Disse que, se Dilma falar em "golpe", será repreendida:
— Falar em golpe é provocar. Se ela vier neste tom, vamos responder, chamá-la de mentirosa.
Líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO) foi na mesma linha:
— A cada ação corresponde uma reação — afirma Caiado.
Os líderes e senadores da base aliada ao governo de Michel Temer se reuniram na liderança do PSDB no Senado, na manhã deste domingo, para discutir estratégias para a inquirição da presidente afastada Dilma Rousseff nesta segunda-feira, na penúltima sessão de julgamento do impeachment. A ordem era “tomar maracujina” e não cair em nenhuma provocação que deixe a ré em situação de vitima. Até os mais exaltados, como o líder do Democratas na Casa, Ronaldo Caiado (G), segundo o presidente José Agripino (RN), já estaria “controlado” e ciente de que não vale a pena cair em provocação. No início do encontro, os parlamentares haviam decidido que tom, nesta segunda-feira, seria dado pela depoente, mas caso ela extrapole, a reação será no mesmo tom.
— Dilma vai jogar com emoção para tentar conquistar algum voto, mas esse jogo está jogado e só resta a ela a vitimologia, argumentos não existem. A ordem é distribuir maracujina para todo mundo e evitar criação de fatos novos, não mudar o curso já determinado sem cair em provocação. Caiado está sob controle. O episódio de ontem fez com que acordasse que estávamos sendo vítimas de armadilhas e alguns dos nossos estavam caindo. Ele está suficientemente advertido — disse Agripino.
O fato de o ministro Ricardo Lewandowski ter garantido a Dilma o direito de responder as inquirições sem prazo definido, sem réplica para os senadores, preocupa, mas os líderes acham que não tem mais como mudar esse rito.
— Contamos com o bom senso do ministro Lewandowski para que não permita, a cada pegunta, um novo discurso. Quem deve ter menos interesse em radicalizar é a presidente Dilma. Estamos preparados para o questionamento com absoluto respeito. Ela dará o tom. Esperamos seja a altura do momento difícil porque passa o Brasil. Não é um momento de festa. É um processo que deixará traumas. Acho adequado que ela venha e cabe a nós, como juízes, interrogá-la com absoluto respeito. Que ela responda adequadamente. Se houver exagero, será respondido na mesma forma. Será uma sessão histórica. O afastamento, se ocorrer, significa que Dilma perderá seus direitos políticos — disse o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG)
Sobre a suposta presença do ex-presidente Lula e do cantor Chico Buarque nas galerias, os líderes da base dizem que a presença de seus convidados também será muito “significativa”. Uma das ideias é trazer líderes dos movimentos de rua, que ficarão lado a lado com ex-ministros na galeria, separados apenas por jornalistas.
— Se Lula ou Chico vierem, é um direito deles e não nos preocupa. Vai ser muito significativa presença nossos convidados — disse Aécio.
Mudança de estratégia
O presidente do PSDB afirmou ainda que, ao contrário do que estava programado, todos os senadores de seu campo político decidiram que farão perguntas a Dilma. Inicialmente, a previsão era que apenas cerca de 25 perguntassem, contra os 20 inscritos favoráveis a Dilma.
Os aliados da petista também mudaram a estratégia e trocaram o senador Paulo Paim (PT-RS) pela senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) como primeira inscrita nas perguntas a Dilma. Kátia, que foi ministra de Dilma, tem se destacado pela defesa contundente da sua ex-chefe, inclusive com ataques ao presidente interino, Michel Temer, responsável pela sua filiação ao PMDB.