Ana Paula Ribeiro - O Globo
Moeda americana acumula alta de 2,97% na semana e de 5,77% no mês
Os mercados no Brasil operaram pressionados nesta sexta-feira, com os investidores ainda receosos com o ajuste fiscal e também com as repercussões em relação aos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e dos Estados Unidos. O dólar comercial encerrou o pregão cotado a R$ 3,185 na compra e a R$ 3,187 na venda, valorização de 0,72%. Na semana, a moeda subiu 2,97% e, no mês, 5,77%. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) caiu forte puxada pelas ações de bancos e da Petrobras e terminou o pregão com queda de 2,25% em seu índice de referência, o Ibovespa, que chegou aos 52.760 pontos. O indicador tem queda de 2,97% na semana e de 6,17% em maio.
Na avaliação de Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, os investidores estão cautelosos e sensíveis ao noticiário político e econômico, o que aumenta a volatilidade.
— Dos indicadores divulgados hoje, o mais importante foi o PIB americano, que veio um pouco melhor que o esperado e está conduzindo essa alta do dólar — avaliou.
O IBGE divulgou pela manhã que o PIB do primeiro trimestre apresentou uma retração de 0,2% ante o quarto trimestre, dado um pouco melhor do que o esperado por analistas. Já o PIB americano indicou um recuo de 0,7%, enquanto o mercado esperava 1%. O número melhor que o esperado faz ganhar força as especulações de que o Federal Reserve (Fed, o bc americano) irá aumentar os juros ainda em 2016.
Além disso, apesar da aprovação das medidas de ajuste fiscal, alguns economistas consideram que o esforço não será suficiente para equilibrar as contas públicas. A incerteza sobre esse tema faz com que os investidores busquem refúgio no dólar.
O economista Jefferson Luiz Rugik, da Correparti Corretora de Câmbio, lembra ainda que o fato de ser final de mês, com a definição da taxa Ptax do Banco Central, aumentou a volatilidade dos negócios. Essa cotação serve de referência para uma série de contratos cambiais e é o dia que costuma ocorrer uma disputa entre comprados (que apostam na alta) e vendidos (que esperam um recuo na cotação). “Aqui fatores técnicos como a briga para a formação da Ptax e a expectativa de quanto e como vai ser a rolagem dos swaps de julho deram combustível para a alta”, avaliou.
No exterior, a divisa segue praticamente estável. O “dollar index”, que mede o comportamento da moeda frente a uma cesta de dez outras divisas, tem leve queda de 0,04% no momento do encerramento dos negócios no Brasil.
BOLSA CAI COM “BLUE CHIPS”
Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), a queda foi puxada pelas ações de maior relevância no Ibovespa, conhecidas como “blue chips”. Para Adriano Moreno, estrategista da Futura Invest, o preço das ações no Brasil está passando por um processo de reprecificação. A razão para essa busca de um novo patamar de preço é o ajuste fiscal. O especialista lembra que, no início do mês, era dado como certo pelo mercado a aprovação das medidas propostas pelo governo. No entanto, o que se viu nas últimas duas semanas foi uma disputa com o Congresso Nacional e o governo precisou ceder em alguns pontos.
— Se dava como certo o ajuste fiscal. Mas na semana passada e nessa, no entanto, o ruído político aumentou e os investidores já não trabalham com certeza absoluta em relação alo ajuste — afirmou.
Esse cenário de incerteza por conta do ambiente político também contribui para o aumento da volatilidade.
— O mercado está muito arisco e o comportamento é de cautela. Além disso, estamos na virada do mês e os gestores fazem ajustes nas carteiras, o que contribuiu para a volatilidade — explica Figueredo, da Clear, lembrando que algumas ações saíram do índice MSI do Morgan Stanley, o que força alteração por parte dos gestores estrangeiros.
No caso da Petrobras, as ações preferenciais (PNs, sem direito a voto) tiveram queda de 2,68%, cotadas a R$ 12,33. Nas ordinárias (ONs, com direito a voto), o recuo foi de 2,64%, R$ 13,25. Na Vale, o pregão também foi de baixa, com as PNs recuando 2,55% e as ordinárias com leve desvalorização de 2,38%.
Os bancos, que possuem o maior peso na composição do Ibovespa, também operam em forte queda, com as ações pressionadas pelo temor de mudanças na forma de pagamento do juro sobre o capital próprio, forma de provento bastante utilizada pelas instituições financeiras. Na semana passada, o governo já elevou de 15% para 20% a alíquota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para o setor financeiro. As preferenciais do Itaú Unibanco caem 2,47% e as do Bradesco recuam 2,69%. Já no caso do Banco do Brasil, a desvalorização é de 2,82%.
Já as ações da Qualicorp, empresa de administração de planos de saúde, despencou. A negociação dos papéis chegou a ser interrompida pela forte queda. Ao final do pregão, o tombo foi de 19,66%. O motivo para essa que foi a Operação Acrônimo da Polícia Federal, que tem com um dos alvos o presidente da Qualicorp, José Seripieri Filho.
Os principais índices do mercado global de ações também operam em queda. No entendimento dos investidores, os dados divulgados nesta sexta-feira nos Estados Unidos mostram que o país dá prosseguimento a sua recuperação econômica, o que é interpretado como um sinal de que o Federal Reserve (Fed, o bc americano) irá elevar os juros. O DAX, de Frankfurt, fechou em queda de 2,26% e o CAC 40, da Bolsa de Paris, recuou 2,53%. Já o FTSE 100, de Londres, caiu 0,80%. Nos Estados Unidos, Dow Jones e S&P registraram quedas de, respectivamente, 0,64% e 0,63%.