Thiago Dantas, Tatiana Farah e Simone Iglesias - O Globo
Candidata do PSB, derrotada no primeiro turno, nega que tucano tenha lançado documento apenas para ter seu apoio
Derrotada no primeiro turno, Marina Silva (PSB) anunciou na manhã deste domingo, em São Paulo, apoio ao candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Fontes próximas a Marina, que esteve reunida com seu grupo político, a Rede Sustentabilidade, afirmaram que a ex-ministra considerou "satisfatório" o gesto de Aécio de divulgar um documento no qual assume compromissos da plataforma da Rede, condição imposta por Marina para apoiá-lo no segundo turno.
O coordenador-geral da campanha de Marina, Walter Feldman, considerou o documento de Aécio um "avanço".
Um dos pontos mais importantes, segundo o deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), é o que trata da demarcação de terras indígenas. No texto divulgado hoje, Aécio diz que o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) "tem sido negligente" e afirma que vai se posicionar pela manutenção da prerrogativa do Poder Executivo de demarcar as terras indígenas, o que já é assegurado pela Constituição Federal.
Outros pontos considerados essenciais para Marina foram a manutenção da política social e o avanço na política de sustentabilidade.
Embora Marina tenha se posicionado firmemente contra a redução da maioridade penal, hoje seus aliados afirmavam que esse ponto não era inegociável.
- Não vejo divergências reais em torno dessa questão - disse Sirkis.
No texto, Aécio não diz se, em um eventual governo, vai reduzir ou garantir a maioridade a partir dos 18 anos, mas fala que vai "convocar a sociedade brasileira a debater soluções generosas" para a juventude e "evitar que os problemas sejam encarados apenas sob a ótica da punição".
ADESÃO A AÉCIO DIVIDE POLÍTICOS DA REDE
Políticos ligados à Rede passaram a última semana debatendo se oferecer apoio a um candidato à Presidência no segundo turno está dentro do programa do grupo, que tenta combater a polarização entre PT e PSDB. Algumas pessoas dentro do partido acham que seria melhor manter a neutralidade, segundo interlocutores.
-A Rede é uma proposta de nova política, mas o segundo turno leva necessariamente a uma polarização. Tentamos ser uma terceira via a essa polarização; não deu certo. E como o partido fica neste segundo turno? — disse Feldman, após reunião no apartamento de Marina em São Paulo.
Segundo Feldman, apesar das opiniões divergentes, a possibilidade de apoiar Aécio não provocou crise dentro do partido:
- Não há crise. Alguns acham que deve continuar batalhando a despolarização e não participar (do segundo turno). Outros acham que, dada a dramaticidade da desconstrução democrática e do retrocesso ambiental, social e econômico do governo Dilma, você não tem muita escolha a não ser tomar uma opção.
Em 2010, quando disputou a eleição presidencial pelo PV, Marina não anunciou apoio a nenhum dos dois candidatos que disputavam o segundo turno: Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Ao lado de outros políticos próximos a Marina, Feldman passou a tarde discutindo com a ex-ministra como seria o pronunciamento programado para a manhã de hoje. Dizendo que não poderia falar em nome de todos, o ex-deputado afirmou que os compromissos assumidos pelo tucano são “substanciais”:
- Não dá para se imaginar que o programa do Aécio seja o mesmo que o da Marina ou da Rede, mas, na minha avaliação, é uma carta-compromisso de forte cunho social. Foram garantidas questões da democracia, da sustentabilidade e dos programas sociais. Me parece bastante relevante.