Letícia Lins - O Globo
Em Sirinhaém, 74,19% votaram na ex-senadora
Diante de seu pequeno comércio de "mangaio", no centro de Sirinhaém - a 76 quilômetros do Recife -, o pernambucano José Roberto Quintino, de 53 anos, resume o sentimento da população do município, onde a ex-candidata à sucessão presidencial Marina da Silva teve o maior percentual de votação do país: 74,19%. A exemplo de 45 dos 48 moradores consultados por O GLOBO, Quintino confirmou ter votado na ex-senadora, invocando desejo de "mudança". Também alegaram querer o "fim da corrupção" ou da "roubalheira", associando os dois últimos ao partido da presidente Dilma Rousseff, o PT.
Dos três ouvidos pela repórter que não optaram por Marina, dois votaram em Dilma, e uma terceira preferiu fazer segredo, alegando que votou "mais ou menos", sem explicar o que isso significa. Mas o comerciante, a dona de casa Rosineide Bandeira de Almeida (35 anos), o gari Vácio Alves Freire (35), o artesão Eronildo José Carlos Honorato (34) e o pedreiro Marcos Ferreira da Silva (53) têm argumentos na ponta da língua para justificar a opção pela ex-seringueira. Eles se identificam com sua origem pobre, acham que ela iria saber trabalhar melhor pelo país e, embora reservem elogios para o ex-presidente Lula, afirmam estar "cansados" de constantes desvios de conduta que atribuem ao governo:
- Claro que votei em Marina. Minha primeira escolha seria o ex-governador Eduardo Campos (PSB). Com a morte dele, estava contando com Marina na Presidência. Não voto em Dilma porque o PT já cansou, virou corrupto, e não apoio corruptos. Votei em Marina, não foi por pedido de prefeito nem de outros políticos, não. Foi por convicção - disparou Quintino, referindo-se a escândalos como o do mensalão e o da Petrobras.
Perto da mercearia de Quintino, o gari Vácio Alves Ferreira, de 35 anos, é mais um que entrou na onda marineira:
- Depois que Eduardo Campos morreu, meu coração virou para a pessoa de Marina. Ela é pobre, veio da floresta, é trabalhadora. Dilma pode ter trabalhado muito, mas fez menos coisa do que devia.
O artesão Nildo afirma ter cansado dos "excessos" do PT, para justificar a escolha por Marina.
- Já votei muito no PT, em Lula, em Dilma. Mas alguns sucessivos escândalos que a gente tem visto no noticiário fazem com que a gente vá cansando do partido. Eu cansei, e abracei a causa de Marina. (Agora) vou ficar com Aécio, que já recebeu o apoio do PSB.
O pedreiro Marcos Ferreira da Silva é outro que deve "tucanar":
- Estou pensando em votar no "comprimido" (referência ao AAS, que soa parecido ao nome do candidato).
Aécio teve apenas 526 votos na cidade em 5 de outubro. Marina disparou com 14.940, enquanto Dilma registrou 4.512. Uma situação bem diferente de 2010, quando Dilma teve 12.399 contra 2.786 de Marina.
Na área rural, é mais fácil encontrar eleitores de Dilma, ou daqueles que votaram em Marina no primeiro turno, mas se preparam para referendar a presidente no segundo:
- Eu voltei em Dilma e, se ela for candidata cem vezes, voto nela de novo. Porque fez muito pelo pobre - diz o cortador de cana José Luiz Cunha, de 40 anos, beneficiário do Bolsa Família.
José Avelino dos Santos, de 38 anos, afirma que no primeiro turno foi "na onda" da maioria da população do município e escolheu Marina. Mas, no segundo, vai de Dilma mesmo:
- Se é para piorar, é melhor deixar como está. Pelo menos, o benefício (Bolsa Família) está garantido.