Marina Silva finalmente declarou seu apoio a Aécio Neves, firmado após negociações programáticas, e não fisiológicas, como ocorre com o PT. Em sua carta, a candidata derrotada no primeiro turno diz:
Em curto espaço de tempo, e sofrendo os ataques destrutivos de uma política patrimonialista, atrasada e movida por projetos de poder pelo poder, mantivemos nosso rumo, amadurecemos, fizemos a nova política na prática.
Os partidos de nossa aliança tomaram suas decisões e as anunciaram. Hoje estou diante de minha decisão como cidadã e como parte do debate que está estabelecido na sociedade brasileira. Me posicionarei.
Prefiro ser criticada lutando por aquilo que acredito ser o melhor para o Brasil, do que me tornar prisioneira do labirinto da defesa do meu interesse próprio, onde todos os caminhos e portas que percorresse e passasse, só me levariam ao abismo de meus interesses pessoais.
[...]
Vejo no documento assinado por Aécio mais um elo no encadeamento de momentos históricos que fizeram bem ao Brasil e construíram a plataforma sobre a qual nos erguemos nas últimas décadas.
[...]
Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora abalada com a volta da inflação e a insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas.
[...]
Entendo que os compromissos assumidos por Aécio são a base sobre a qual o pais pode dialogar de maneira saudável sobre seu presente e seu futuro.
[...]
Chegou o momento de interromper esse caminho suicida e apostar, mais uma vez, na alternância de poder sob a batuta da sociedade, dos interesses do pais e do bem comum.
É com esse sentimento que, tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu voto e meu apoio neste segundo turno.
São palavras firmes de quem parece realmente colocar os interesses do país acima de seus próprios interesses de curto prazo. Marina não se vendeu ao poder, mas sim endossou uma ideia, pois encontrou em Aécio Neves eco e receptividade às suas próprias, em parte.
É verdade que tentou forçar a barra, tentando “impor” muito de sua agenda que, mal ou bem, saiu derrotada pelas urnas. A questão da redução da maioridade penal, por exemplo, foi um caso claro. Aécio, com habilidade política típica dos mineiros, assumindo o legado de seu avô Tancredo, soube costurar um acordo com os pontos convergentes, sem abrir mão daquilo que caracterizava sua candidatura.
Declarou que o apoio de Marina os transforma em “um só corpo”, exagerando na retórica, mas passando a mensagem aos eleitores: Marina e Aécio souberam se unir em prol de um projeto comum, democrático, que visa ao benefício do povo brasileiro em geral, pois ninguém aguenta mais o PT no poder.
Não ceder na defesa da redução da maioridade penal para crimes hediondos e reincidentes foi fundamental para a candidatura do tucano, pois pesquisas apontam que a imensa maioria está com ele nessa. Em propaganda na TV hoje mesmo Aécio reforçou esse ponto de seu programa, mostrando que é capaz de negociar e ceder para obter ampla base de apoio, mas sem sacrificar sua essência.
Tancredo Neves teve papel crucial no processo de redemocratização do Brasil, e não fosse a peça pregada pelo destino, não teríamos tido Sarney como presidente. Aécio Neves, seu neto, demonstra o mesmo tipo de paciência com persistência, construindo pontes para ligar diferentes grupos ideológicos, mas todos com algumas importantes demandas em comum.
O Brasil se encontra dividido, segregado. É verdade que muito disso foi obra do PT, que adotou a máxima de dividir para conquistar. Muitos se uniram como reação, pois o antipetismo se tornou muito forte. Há até um Stédile, irmão do líder do MST, que vai votar em Aécio por conta disso.
Mas há que se reconhecer o mérito do próprio tucano. A começar pelos obstáculos que enfrentou dentro de seu partido. Soube aglutinar, trazer para seu projeto os tucanos paulistas e tantos outros partidos. Agora conta com o apoio de Eduardo Jorge, do PV, do Pastor Everaldo, e de Marina Silva também. Estão todos unidos contra o PT e a favor da democracia. Do outro lado, restaram basicamente os velhos caciques do fisiologismo.
“A falta de alternativas deixa a mente espantosamente clara”. A frase é atribuída a vários pensadores importantes, e sua mensagem é cristalina: as duas alternativas que se apresentam para o eleitor agora são a manutenção de um modelo arcaico, fisiológico, autoritário e incompetente, e a alternância de poder, a desintoxicação política, o protesto contra toda essa corrupção. Como ter algum tipo de dúvida?