- Banco Central deve ficar ‘vigilante’ contra alta de preços
Gabriela Valente - O Globo
O Banco Central justificou que teve de manter o ritmo de alta de juros para conter a inflação que surpreendeu pela força no ano passado. E ainda indicou que, por causa dessa pressão, deve continuar a apertar a política monetária. Na ata da reunião em que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual para 10,5% ao ano, divulgada hoje, os diretores disseram que terão de manter a vigilância para controlar os preços.
“O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária”, afirmou o comitê ao repetir um parágrafo do texto anterior, publicado após a reunião de novembro.
No entanto, as razão são novas. O BC admitiu que a inflação pegou todos de surpresa. E por isso, a promessa da autarquia de cortar a alta de preços em relação ao ano passado não foi cumprida. A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou em 5,91%. A meta para o ano era de 4,5% com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais. Já a prévia de janeiro (IPCA-15) desacelerou e ficou em 0,67%.
“O Copom pondera que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência, que, a propósito, tem se mostrado ligeiramente acima daquela que se antecipava”, argumenta o Copom que lembra o alto índice de indexação da economia brasileira e, por isso, seria justificada a continuidade desse ritmo de alta dos juros.
Desde abril do ano passado, o Copom começou o processo de aperto dos juros. Já foram feitas sete altas seguidas para conter os preços. Mesmo assim, o BC admite que as projeções não param de subir. Num trecho da ata, os diretores dizem que projetam uma inflação maior que a prevista em novembro se os juros ficassem inalterados. Com a projeção – não divulgada pela autarquia – ficou ainda mais distante da meta de 4,5%.
Entre vários fatores de pressão, o Copom ainda incluiu o cenário externo. Ele retirou do texto o trecho em que dizia que a o frágil cenário internacional era considerado um fator de contenção dos preços, ou seja, o BC vislumbra que a retomada de crescimento lá fora pode ter impacto na inflação brasileira.